19 de abril é o dia de se celebrar a cultura e luta dos povos originários brasileiros. A data foi instituída em 1943, através de decreto, pelo presidente Getúlio Vargas, com o nome de "Dia do Índio". O termo, no entanto, é retrógado e preconceituoso, pois limita o indígena brasileiro a uma figura estereotipada, em detrimento de toda a diversidade cultural desses povos.
Quem faz o alerta são os próprios indígenas. O país já conta com um projeto de lei aprovado na Câmara dos Deputados criado por Joenia Wapichana (Rede-RR), primeira e única parlamentar mulher indígena do Congresso Nacional, que muda o nome da data para Dia dos Povos Indígenas. A proposta ainda precisa ser aprovada pelo Senado para virar lei.
Em entrevista ao programa Fórum Onze e Meia nesta terça-feira (19), Marize Guarani, presidenta da Associação Indígena Aldeia Maracanã (AIAM), explicou o motivo pelo qual usar "Dia do Índio" é preconceituoso e o nome correto para a data deve ser Dia dos Povos Indígenas.
"'Índio' não cabe para 305 povos, 305 culturas, 274 línguas. Nós somos o segundo país com maior número de línguas faladas o território nacional. Precisamos fazer com que elas não despareçam, apesar de sabermos que no português estamos recheados Tupi-guarani. As pessoas falam Tupi-guarani e não conseguem nem entender isso, tamanha nossa invisibilidade", pontua Marize.
Segundo Marize, dizer "índio" para se referir aos povos originários brasileiros alimenta o preconceito e a discriminação. "É tentar colocar a gente numa caixinha, e quem não se enquadra congelado no século 16 não é indígena. Para que a gente acabe com esse preconceito, estereótipos e dicriminação, é 'Dia dos Povos Indígenas'. Somos 305 povos nesse país", reforça.
Dia de reflexão
Marize Guarani explica que, neste 19 de abril, os povos indígenas não têm nada a comemorar, exceto o fato de que, recentemente, se realizou o Acampamento Terra Livre, em Brasília, que reuniu representantes de mais de 200 povos em uma demonstração de que há união e luta em defesa de seus territórios.
"Esse é um dia de reflexão", declara.
"Nosso povo continua unido, lutando em defesa dos nossos territórios, em defesa do direito de existir, em defesa dos animais e da biodiversidade desse país. E isso não é só para a gente. A gente precisa entender que tudo é conectado (...) Os povos indígenas lutam em defesa do sagrado, porque nossa mãe é o sagrado, mas é um sagrado que é sagrado para todo mundo. Se a nossa terra, nossa mãe, não existir, não existe humanidade", atesta ainda.
Assista à entrevista com Marize Guarani a partir dos 9 minutos e 19 segundos do vídeo abaixo