O ativista carioca, escritor, professor e roteirista Anderson França postou um texto em sua página no Facebook, no qual analisa a Chacina do Jacarezinho e observa uma relação direta entre as práticas utilizadas pelas polícias do Rio de Janeiro e Jair Bolsonaro. Além disso, vê uma intenção do presidente em atacar o Supremo Tribunal Federal (STF).
Veja a íntegra do texto:
Bolsonaro usa o Jacarezinho para afrontar o STF. Tem que ligar o que aconteceu no Jacarezinho, ao Bolsonaro. Porque todas as peças batem.
A Chacina do Jacarezinho é estratégia de Bolsonaro para acuar e desestabilizar o STF. Você pode achar que não, que é mais uma das muitas chacinas diárias do Rio.
Vem comigo, praquilo que a imprensa demora a mostrar:
Ele tem tentado deslegitimar o STF há meses, por manifestação em Brasília. Teve blogueiro preso, teve Sara Winter presa, todos por ameaçarem o STF. Teve Daniel Silveira preso pelos mesmos motivos. Ele tentou por ameaça direta. Tentou ameaçando intervenção militar. Está sendo impedido de agir como quer, e tem investigações sobre o filho, Flávio, que mobilizam STF e Polícia Federal - no Rio.
A ideia é desestabilizar o STF para tomar rumos mais autoritários, ampliar o poder da milícia no Estado brasileiro, como ele disse ontem, que tem um decreto pronto, e “tribunal nenhum vai contestar”. A milícia está dando um golpe.
Para permanecer no poder, considerando um golpe em 2022, Bolsonaro precisa anular o poder do STF.
E onde entra a favela nisso. Lembra quando o comando da operação da Polícia Civil foi perguntado do porquê tantas mortes?
Eles disseram: A culpa é do STF.
A Polícia Civil do Rio está cooptada pela milícia e atua em nome de Bolsonaro. Promover uma catástrofe nacional era o plano, pra jogar a culpa no STF.
E porque o STF: Porque o STF, além de travar Bolsonaro, impediu as polícias de realizarem operações no Rio. Se o plano é destruir o STF, então ele decidiu atacar todas as decisões do STF até enfraquecer ou acuar os juízes, coisa que ele já vem fazendo.
Mas no Rio?
Sim, no Rio.
Bolsonaro é do Rio, e sua família é uma das mais poderosas milícias cariocas. Bolsonaro se infiltrou na Segurança do Rio, desde março de 2020. Witzel, hoje esculachado, abriu a porteira pro presidente. Extinguiu a Secretaria de Segurança Pública. Veja só: numa cidade como o Rio, não ter uma Secretaria de Segurança.
E deu poder pra dois sujeitos: Alan Turnowisk e Rogério Lacerda. Secretários da Civil e da PM. Os braços armados do governador.
A ficha corrida deles, quem dá é Orlando Sucupira.
Você ouviu falar vagamente desse cara. Mas ele deu um depoimento na justiça, onde entrega Alan e Rogério, como braços da milícia, e Cláudio Castro como o menino-sombra, o cara que faz tudo em silêncio.
Alan foi acusado de corrupção em 2011, inclusive porque seu braço direito vendia arma pra traficante. Rogério recebia propina do próprio Sucupira. E Rogério pede ajuda a milicianos quando quer expulsar traficantes.
Essa é a Polícia Civil e Militar do Rio de Janeiro. Fechada com Bolsonaro. Disposta a matar pra ajudar o chefe em Brasília.
E fizeram.
Quando, com todos os cadáveres na mesa, sabendo que a notícia ia ganhar o mundo, jogaram a culpa no STF. Terrorismo de Estado, contra a favela, contra outras instituições. É claro que eles sabiam que a gente ia estar desse jeito hoje. ERA ISSO QUE QUERIAM.
Bolsonaro foi pessoalmente ao Rio, pra apertar o play. No dia 5, UM DIA ANTES da Chacina, ele se reuniu a PORTAS FECHADAS com Cláudio Castro. Não disseram nada à imprensa.
Ali, o plano de matança estava pronto.
Era botar os jagunço da Civil e da PM na roda, e dar coletiva esculachando o STF. E fodace se vai morrer preto.
Faz o seguinte, pra parecer real: pega um bucha da Civil, e mata. Dá um tiro na cabeça dele e diz que foi execução dos bandidos. E isso vai justificar a tropa.
Quem assistiu ao vivo à operação, perdão, à chacina, viu que não havia condição de reação. Os bandidos fugiam, a Civil tinha força desproporcional, e todos sabem que nessas condições ninguém consegue chegar perto de um policial sem ser visto, e dar um tiro na cabeça dele.
Se o Ministério Público investigar, exumar o corpo, achar o projétil e estudar o caso, vai chegar a uma única conclusão: A Polícia Civil matou o agente André, que sustentava a mãe acamada, vítima de um AVC.
Eles matam os próprios colegas.
Porque tem “uma ordem que veio de cima”.
E quem deu a ordem que vem de cima, é dono das terras do Rio, e das milícias, que favorece a tropa.
No andar de baixo, choramos as mortes e o extermínio do povo negro, que SEMPRE acontece. Mas tem um andar de cima. Bolsonaro está usando corpos negros como peças pra desestabilizar a República e continuar no poder.
Não foi por acaso a visita dele ao governador do Rio, um dia antes. Nada no Rio é por acaso.
No Rio, a gente precisa ler através das notícias. Porque a verdade está no fundo.
Então, pra quem é o recado?
Pro STF.
"Se continuar no caminho, vamos matar todo mundo".
Como disse Mourão: é tudo bandido.
Tudo, incluindo o colega de presidência dele.
As mortes da milícia são recados.
A morte da Marielle foi um recado da milícia. Essas mortes no Jacarezinho são um recado da milícia. Da família Bolsonaro. De quem o assassino de Marielle é vizinho.
A gente aqui embaixo lutando por Direitos Humanos, e é na sala dos fundos onde tudo acontece, que Bolsonaro usa o Rio como peça do seu jogo. É tudo muito pior do que você pensa.
Estamos encurralados. Ora aí.