Escrito en
DIREITOS
el
Thiego Amorim, em entrevista à Fórum, reafirmou sua surpresa com a repercussão do seu envolvimento em uma confusão com a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. “Tudo ocorreu tão naturalmente, do jeito que eu sempre faço”, disse.
O vendedor, que trabalhava na loja Cantão em um shopping de Brasília, declarou que tirou uma lição do caso. “A gente não deve se calar mesmo, deve questionar sempre algo que nos diminui, nos oprime. A lição é essa: jamais baixar a cabeça para gente que diminui a gente. E se tivesse a oportunidade, faria tudo de novo”.
O rapaz contou como recebeu sua demissão: “Fui desligado no sábado (dia 12). Quando cheguei à loja, a gerente e a dona me falaram que meu contrato de trabalho tinha acabado no dia 10 (de janeiro), data em que completava três meses de empresa. Eles não iriam renovar e eu poderia deixar a loja imediatamente. Pediram para assinar um termo de rescisão, mas não assinei e afirmei que não confiava em ninguém da loja”.
Na avaliação de Thiego, é “nítido que minha demissão ocorreu depois da história da ministra. A gente trabalha com números em lojas e os meus eram muito bons, sempre batia a cota, tinha um bom rendimento e uma boa cartela de clientes. Então, eles não tinham motivos para me mandar embora por conta de números. Foi uma represália pelo que aconteceu”.
O fato, de acordo com ele, não vai fazer com que mude sua intenção. “Jamais vou deixar de lutar pelos meus direitos, pelo que acredito, pelo que a verdade me proporciona. Vou continuar na Justiça contra a ministra e agora contra a marca. A Justiça Trabalhista já foi acionada para resolver o caso”, avisa.
O rapaz declara que não teme ficar marcado. “No começo eu fiquei com receio, mas estou recebendo tanto apoio de tanta gente, tanta proposta de gente legal. Para você ter uma ideia, o estilista Ronaldo Fraga compartilhou minha foto quando falei da demissão. Ele disse que era uma injustiça. A modelo internacional Lea T me deu apoio, tenho propostas para várias áreas, nas que já trabalhei e em outras áreas que nunca trabalhei. Eu me sinto superamparado para não ficar desempregado”, completa.
O caso
Thiego Amorim, de 34 anos, questionou a razão pela qual Damares Alves estava vestindo uma roupa azul, durante visita da ministra na loja em que ele trabalhava, e a ministra disse que estava sendo constrangida.
“Eu falei ‘vem cá, que história é essa de menino ter que usar azul e menina ter que usar rosa?’. Aí, ela se aproximou de mim, colocou a mão em cima do meu pescoço, como se quisesse dizer ‘escuta aqui’. E disse ‘eu vou acabar com a ideologia de gênero nas escolas brasileiras’”, explica.
Thiago afirma que respondeu: “Aí, eu falei que isso não existe. Ela insistiu: ‘eu sou professora, isso existe’. Eu falei: ‘amor, minha mãe é professora e leciona há 20 anos e nunca levou isso para a escola’. Eu perguntei a ela: ‘por que você está de azul, então?’. Foi a hora que ela saiu e falou: ‘você está me constrangendo’”, justificou.
Na semana passada, Thiego ingressou com uma representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra a ministra, alegando constrangimento e ameaça.
De acordo com ele, uma assessora que estava com a ministra no shopping teria dado um tapa na sua mão, enquanto o vendedor pegava o celular para começar a gravar. Seu advogado, Suenilson Sá, declarou que o vídeo que viralizou não mostra todos os fatos que ocorreram na loja.
Cantão
A Fórum entrou contato com a assessoria de imprensa da rede de lojas Cantão para obter um posicionamento do grupo a respeito da demissão de Thiego Amorim. Foi enviada uma nota de esclarecimento:
“Há dez dias, começou a circular na internet um vídeo que mostrava o atendimento inadequado de um colaborador da Franquia do Brasília Shopping. Internamente, passamos esse período analisando e refletindo sobre cada um dos comentários feitos nas redes sociais. Durante esse tempo, também conversamos com as partes, apuramos os fatos com respaldo jurídico e buscamos entender o ocorrido de forma coerente e humana. Por isso, estamos aqui mais uma vez para deixar claro que não aprovamos a forma como foi feito o atendimento que gerou essa repercussão na Franquia do Brasília Shopping. A marca apoia a liberdade de expressão de todos os seus colaboradores desde que não comprometa a qualidade do atendimento, que deve prezar pela simpatia, educação e respeito, sem distinções.
Informamos que o funcionário já não faz mais parte da equipe da Franquia do Brasília Shopping. Ele estava em período de experiência que se encerrou no dia 10/01/2019.
Agradecemos a todos que exigiram e cobraram uma atitude coerente da marca.
Seguimos à disposição.
Atenciosamente, Cantão”.