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O Brasil, ao mesmo tempo que é o país em que mais se procura e assiste pornografia com pessoas trans, também é o país em que mais se cometem assassinatos de mulheres travestis, mulheres transexuais e homens trans. Leia aqui artigo sobre o assunto, que ressalta ainda o lançamento do livro “Dossiê: A geografia dos corpos das pessoas trans”.
Por Luisa Stern*, colaboradora da Rede Fórum
A visibilidade trans e o recorde de assassinatos
Poderia tratar-se de apenas mais um chavão afirmar que o Brasil é um país de contrastes. Nesse caso, porém, revela uma triste e dura realidade. Ao mesmo tempo em o Brasil é o país em que mais se procura e assiste pornografia com pessoas trans, também é o país em que mais se cometem assassinatos de mulheres travestis, mulheres transexuais e homens trans.
Segundo levantamento da ONG Transgender Europe - TGEU para o projeto “Trans Respeito versus Transfobia”, no período de 2008 a 2015 aconteceram 802 assassinatos de pessoas trans no Brasil. Importante dizer que no período não havia um levantamento confiável sobre o assunto e muitos crimes ficavam subnotificados como se fossem casos de homofobia em um levantamento empírico feito por um grupo de gays, com base em notícias de jornais e portais de Internet.
Em 2016, o ano começou com uma série de assassinatos brutais em uma quantidade que se multiplicava de maneira assombrosa. A partir daí, a Rede Trans – Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil, começou a fazer o monitoramento dos casos de maneira mais criteriosa e publicar em seu site, assim como estatísticas sobre suicídios e outros casos de violência. O ano de 2016 se encerrou com o recorde de 147 assassinatos, ao mesmo tempo em que a Rede Trans realizou uma parceria com a Transgender Europe, para que esse monitoramento passe a alimentar as estatísticas internacionais.
Esse trabalho também resultou na obra “Dossiê: A geografia dos corpos das pessoas trans”, que foi lançada neste sábado (28), no Rio de Janeiro, em uma das atividades relativas ao Dia Nacional da Visibilidade Trans.
Lembrando que a Visibilidade Trans é celebrada em 29 de janeiro porque em 2004, foi lançada uma campanha chamada “Travesti e Respeito” no Congresso Nacional, com apoio do Ministério da Saúde e participação dos movimentos sociais. A partir daí, a data passou a ser chamada de Dia da Visibilidade das Travestis e ao longo do tempo cresceu de importância, tornando-se o Dia Nacional da Visibilidade Trans, se estendendo também a mulheres transexuais e homens trans.
Nessa data ou em dias próximos são realizadas diversas atividades no Brasil inteiro, tanto para reforçar a visibilidade positiva, quanto para chamar a atenção para os crimes e demais vulnerabilidades às quais as pessoas trans estão expostas, bem como cobrar a implementação de políticas públicas para mudar essa realidade em um país que não tem nenhuma lei federal que proteja a população LGBT.
*Luisa Stern é mulher transexual, advogada, militante pela cidadania das pessoas trans e colaboradora da Rede Fórum