Escrito en
DIREITOS
el
No dia 13 de agosto do ano passado 19 pessoas foram mortas em Osasco, Itapevi e Barueri. As investigações apontam que o crime possa ter sido cometido por grupos de extermínio dentro da polícia
Por Redação*
Nesta sexta-feira (12), parentes de algumas vítimas das chacinas de Osasco, Itapevi e Barueri organizaram um ato no vão livre do Masp, na Avenida Paulista, para cobrar mais agilidade na investigação dos crimes, o pagamento de uma indenização para as famílias e homenagear os 19 mortos dos crimes que completam um ano amanhã (13).
Cadeiras vazias foram enfileiradas na calçada para lembrar o espaço que a morte dessas pessoas deixou na vida de suas famílias. Segundo Fernanda Vallim Martos, coordenadora da ONG Rio de Paz que organizou a manifestação, a Defensoria Pública entrou com pedido de indenização contra o governo do estado.
“O governo do estado já está ciente. As famílias precisam receber uma boa quantia, porque a vida delas parou, se desestruturou. Na maioria dos casos, quem faleceu foi o provedor da casa”, disse Fernanda.
Esse é o caso de Antônia Gomes da Silva, mãe do Jailton Vieira da Silva, que tinha 28 anos quando morreu. Ele trabalhava como eletricista, encanador e pedreiro para sustentar os três filhos. Foi morto no bar, onde morreu a maioria das vítimas da chacina.
“A gente está cobrando para que a Justiça tome uma providência, para que outras mães não precisem chorar. Nossos filhos eram quem trabalhavam, sustentavam a casa. Hoje, a gente depende dos outros. Eles só mataram inocente. Meu filho trabalhava e sustentava os três filhos, espero que não venha a acontecer o mesmo com meus netos”, disse Antônia.
Maria José de Lima Silva, de 50 anos, doméstica, perdeu o filho Rodrigo Lima da Silva, de 16 anos. O adolescente estava em uma sorveteria, onde foi assassinado com o sorvete na mão. “Esse ato representa muita tristeza, muita dor, amargura no meu coração, muita saudade. Meu filho era o caçula. Essa é a pior data do mundo.”
Rodrigo deixou ainda a namorada grávida. A criança está agora com sete meses. “O sonho do Rodrigo era trabalhar, casar. Eu tento esquecer, conversar com as minhas vizinhas, outras mães, mas a dor não sai”, acrescentou Maria José.
Ana Aparecida Adriana de Lima, de 47 anos, vendedora, perdeu o irmão Thiago Marcos Damas, de 32 anos. Ele era auxiliar de escritório e tinha ido à casa de sua irmã para ajudá-la a montar um guarda-roupas e comemorar o aniversário. “Ele estava esperando para dar um abraço e um beijo na nossa irmã, porque era aniversário dela. Ele estava voltando para casa, quando foi morto no ponto de ônibus”, lembra.
Ela admite que será difícil superar a saudade. “Tudo eu lembro dele. Vou fazer uma comida, lembro. Uma brincadeira dentro de casa, lembro. A alegria da casa acabou. Todo mundo cabisbaixo. A Justiça vai, pelo menos, amenizar a dor.”
O advogado Ariel de Castro Alves, membro do Conselho Estadual de Direitos Humanos (Condepe) e do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), que está acompanhando o caso disse que na semana passada houve uma audiência em que falta a juíza decidir se os três acusados, dois policiais militares vão a júri popular.
Ariel também disse que a falta de investigações e a impunidade neste tipo de caso acaba aumentando os índices de letalidade policial em São Paulo.
"A violência policial em São Paulo está sempre aumentando, então a percepção que nós temos é de que a polícia paulista está com licença para matar e cada vez vemos que o governo do estado acaba incentivando e patrocinando ações violentas da Polícia Militar", completou.
Relembre o crime
No dia 13 de agosto, uma série de assassinatos deixou 19 mortos nas cidades de Osasco e Barueri, região oeste da Grande São Paulo. A principal hipótese das investigações é a de que a chacina tenha sido cometida por policiais militares, como vingança pela morte do policial militar Avenilson Pereira de Oliveira, no dia 7 de agosto, em Osasco. Os policiais investigam ainda a possibilidade de que os homicídios sejam um revide à morte de um guarda-civil, no dia 12 de agosto, em Barueri.
No total, 18 policiais militares foram alvo de mandados de busca e apreensão. Foram recolhidos documentos, celulares e outros materiais que poderiam comprovar a participação dos suspeitos nos crimes. Além disso, a Justiça Militar decretou a prisão preventiva do soldado Fabrício Emmanuel Eleutério. Ele foi reconhecido pessoalmente por um sobrevivente da chacina. O soldado negou a participação nos assassinatos.
*Com infotrmações da Agência Brasil
Foto de Capa: Rovena Rosa/Agência Brasil