ONU: Brasil dá exemplo de acolhimento humanitário de refugiados

País tem hoje 7,7 mil pessoas refugiadas de 81 nações. A maior parte deles vem da Síria (23%)

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País tem hoje 7,7 mil pessoas refugiadas de 81 nações. A maior parte deles vem da Síria (23%) Por Sarah Fernandes, na RBA 

O representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), Andrés Ramirez, afirmou que o Brasil dá um bom exemplo de como elaborar e manter políticas humanitárias e generosas de acolhimento de refugiados. “São os países ricos, em geral, que têm que aprender com o Brasil a como implantar ações receptivas, principalmente porque essas pessoas não vêm para tentar uma vida melhor, mas para salvar suas vidas. O Brasil está oferecendo um bom exemplo”, disse, em recente debate em São Paulo. Neste sábado, 20,  foi comemorado o Dia Mundial do Refugiado.

Ao todo, o Brasil tem hoje 7,7 mil pessoas refugiadas de 81 países, de acordo com o último levantamento do Comitê Nacional para os Refugiados, ligado ao Ministério da Justiça, que reuniu dados até maio. A maior parte deles vem da Síria (23%) – país cujos habitantes somam a maioria dos refugiados do mundo – seguida por Colômbia, Angola e República Democrática do Congo. O número de solicitação de refúgio ao governo brasileiro aumentou 22 vezes entre 2010 e 2014, passando de 1.165 para 25.996, de acordo dados do Ministério da Justiça, o que soma mais do que os pedidos feitos à Austrália e quase o mesmo que os do Canadá.

“O Brasil está preparado, mas as coisas estão mudando drasticamente. Fica claro que desde 2013 os números do Brasil estão aumentando muito. O país não está isolado das tendências mundiais de refúgio. Cada vez mais está diante de uma situação complexa e precisa se fortalecer mais, sobretudo a estrutura do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), para estar preparado para o desafio. A tendência é só piorar”, disse Andrés Ramirez. “Os refugiados se deslocam para tentar salvar suas vidas. São vítimas de alguma tragédia humana que os forçou a deixar seu país. Essa é, para eles, a última opção.”

São Paulo é o estado com o maior número de pessoas solicitantes de refúgio, um total de 3.809. A capital paulista é, por sua vez, a cidade com mais solicitantes (3.276), seguida por Campinas (218) e Guarulhos (178). O número de solicitações de refúgio no estado aumentou mais de 1.000% entre 2010 e 2014, saltando de 310 pedidos para 3.612. A maioria dos solicitantes é da Nigéria (1.075), seguida por grupos da República Democrática do Congo (28), Líbano (245) e Gana (185).

“A distância do Brasil dos países em conflito explica por que, apesar do aumento, o número de refugiados ainda é pequeno se comparado com outros focos de refúgio”, avalia o representante da ONU. “Precisamos de diálogo entre estado, União, município, entre as universidades, a sociedade civil e o Acnur (agência da ONU para refugiados). O governo está ciente, está trabalhando e tem que dar resposta a esse fenômeno.”

No mundo

O deslocamento forçado no mundo no ano passado foi o maior já registrado, atingindo 59,5 milhões de pessoas, mais do que a população da Inglaterra. Só em 2014, 13,9 milhões de pessoas foram obrigadas a deixar suas cidades pela primeira vez, muitas vezes fugindo de conflitos, desastres naturais ou epidemias. De acordo com o Acnur, em 2010 pelo menos 10,9 mil pessoas eram obrigadas a deixar suas casas por dia. Em 2014, esse total atingiu 42,5 mil pessoas. Os países que mais recebem pedidos de refúgio são, na ordem, Rússia, Alemanha, Estados Unidos e Turquia. Mais da metade (53%) dos refugiados do mundo se dividem em três nacionalidades: sírios (3,88 milhões, ou um em cada cinco refugiados), afegãos (2,59 milhões) e somalis (1,9 milhão). “A grande maioria dos sírios está indo para os países da vizinhança, como Turquia, Líbano, Jordânia e Iraque. Imagine que para as pessoas fugirem para o Iraque é porque a situação está muito complicada”, disse Ramirez. “Ao todo, 86% dos refugiados estão nos países em desenvolvimento e 14% nos países ricos.” Foto: E. BYUN/ ACNUR