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Ativistas alertam que independente de a modelo ter cometido crime contra idosa, sua integridade física e moral não poderiam ser violadas
Por Redação
Neste domingo (19), o portal R7 publicou uma entrevista com Dona Laura, de 73 anos. Ela conta que foi agredida por sua vizinha Verônica Bolina, a modelo e travesti, que teve fotos vazadas na internet com os seios a mostra e o rosto desfigurado, após ter sido espancada e agredida.
“Eu estava sentada trabalhando quando ele bateu na porta. Ele disse 'você é o Satanás e vou te matar'. Depois começou a me dar socos”, relatou Laura.
Segundo o R7, a idosa está com o nariz e um braço quebrados, várias marcas roxas pelo corpo, ligamentos das pernas rompidos e dezenas de pontos no couro cabeludo, após passar por uma cirurgia para tratar um traumatismo craniano. Ela ainda perdeu todos os dentes da parte superior da boca.
Após a publicação da matéria, internautas contrários aos direitos humanos passaram a compartilhar a entrevista “justificando” as agressões a que Verônica foi submetida. Como se fosse uma vingança da campanha gerada nas redes sociais #somostodasverônica.
A página do Facebook “Faca na Caveira”, que havia postado um texto do delegado Fernando Santiago atacando a revista Fórum e militantes LGBT e de direitos humanos que saíram em defesa de Verônica, voltou a tratar do caso.
“Então os ativistas gays, Jean Wyllys e companhia estavam duvidando da veracidade dos fatos, induzindo várias pessoas a achar que não havia nenhuma idosa agredida por Verônica, que ela apanhou unicamente por ser travesti... E agora seus manipuladores?”, diz a postagem, que até o fechamento desta matéria chegava a quase 1,8 mil compartilhamentos.
Em nenhum momento, Fórum afirmou que Verônica não havia cometido crime e que não havia motivo para a sua prisão. O que Fórum afirmou é que seus direitos haviam sido violados e que nas fotos espalhadas em redes sociais de Verônica haviam sinais de que ela tinha sofrido espancamento e a tortura. E a Constituição Federal do Brasil garante que estando o preso sob a custódia do Estado, tem este o dever constitucional de assegurar-lhe o respeito à integridade física e moral.
A colunista da Fórum que tratou do tema em seu blog, Jarid Arraes, falou sobre o assunto em seu perfil no FacebooK: “Direitos Humanos são direitos de todos as pessoas humanas, incluindo espancadores, assassinos, estupradores e usuários de crack. Se Verônica estava em surto desencadeado por uso de crack, ou um surto psicótico, isso apenas evidencia que é necessário assistência psicológica e tratamento humanizado”. Ela ainda acrescenta: “A polícia não tem direito de espancar e torturar uma pessoa, mesmo que seus crimes sejam extremamente bárbaros. Isso vale para todas as pessoas e não relativizo direitos... Ao contrário do que insinuam, não acho que Verônica não deve 'pagar' por seu crime, o que eu acho é que ela deve ser julgada, com direito de se reunir em privado com seus advogados, com direito de defesa e tratamento humanizado, sem sofrer espancamentos”, completa.
Para o blogueiro Vitor Angelo, do Blogay, o episódio revela o momento atual “de total fundamentalismo”. “A travesti, depois de agredir e arrancar a orelha de um carcereiro, aparece toda machucada, com seu cabelo (parte fundamental para a construção da feminilidade) cortado. Muito mais do que a história e dos valores que é dado às atitudes de agressão seja da polícia seja de Verônica, é patente que a maior violência quem sofreu foi a travesti. Uma violência simbólica fortíssima”, ressalta.
Já Fernanda Dantas Vieira, do blog Os Entendidos, alerta: “Nenhum ser humano, independente de qual crime tenha cometido, deve ser submetido aquele tipo de tratamento. Nenhum. Tortura é crime.”
Ela ainda acredita que tudo isso só ocorreu por se tratar de uma travesti. “Qual o sentido de fotografar e expor um ato criminoso desse nas redes? Na maior parte dos casos de violência policial, os envolvidos não fotografam, não exibem e nem compartilham provas da violência como troféu, o que, então, faz com que essa violência seja espetacularizada? Exibida? Ora, a resposta é simples: trata-se de uma travesti, vista como corpo abjeto, que pode ser mostrado, revirado, mexido, tocado, torturado e experimentado.”