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Em publicação no facebook, o delegado do 4º Distrito Policial de Guarulhos, Fernando Santiago, tenta intimidar e acusa a Fórum de agir para prejudicar intencionalmente os policiais envolvidos no caso Verônica Bolina; confira a nota oficial da revista
Por Redação
A página Faca na Caveira publicou no Facebook, na última quinta-feira (16), um depoimento do delegado Fernando Santiago, do 4º Distrito Policial de Guarulhos, a respeito do caso envolvendo a agressão policial à travesti Verônica Bolina. No texto, Santiago critica a postura de militantes LGBT e outros grupos de direitos humanos que saíram em defesa da transexual. A revista Fórum também foi atacada pelo trabalho na cobertura incisiva dos fatos, que levantam suspeitas de tortura, exposição indevida e outras violações de direitos.
O delegado acusa a revista de contribuir para o que considera uma “absurda inversão de valores” de uma “sociedade doente”. “Eles sempre estão preocupados em achar uma vítima da polícia ou da sociedade branca cristã e heterosexual (sic), se aproveitando nojentamente, assim, do vitimismo alheio de quem eles convencem ser oprimidos”, escreveu.
Santiago insiste em se referir à transexual Verônica como “Charleston”, em vez de utilizar o nome social que ela escolheu para si, e alega que a Fórum mentiu com o objetivo de prejudicar os policiais ligados ao episódio. “Estes movimentos não defendem todos os humanos, mas apenas alguns humanos: os que pertencem a grupos vulneráveis e taxados oprimidos”, afirmou.
Como justificativa, o delegado argumenta que Verônica não teve os cabelos raspados e que não foi despida, pois já teria se apresentado nua no distrito policial. Ainda que fosse verdade – não é, pois a advogada da travesti, Iara Mattos, garante que ela saiu vestida -, neste ponto, Santiago ignora o fato de que a violação de direitos humanos acontece da mesma maneira.
De acordo com o advogado criminalista Pedro Munhoz, as evidentes agressões que Verônica sofreu, sua nudez forçada e sua exposição – as fotos que circulam na internet foram tiradas de dentro do DP, portanto, por policiais – confirmam isso. “O direito constitucional à própria imagem e à dignidade, é bom lembrar, abarca a todos os cidadãos brasileiros, presos ou não. A maneira degradante como ela foi exposta constitui clara violação”, ressaltou.
O delegado ignora também, em sua declaração, o fato de que a forma com que Verônica foi exposta viola regras e orientações objetivas do sistema prisional do estado de São Paulo, uma vez que a resolução SAP 11, DE 30/01/2014, estabelece que travestis e mulheres transexuais têm o direito de manter o cabelo à altura dos ombros e a trajar roupas íntimas femininas, por respeito a sua identidade de gênero e ao princípio da dignidade. Verônica, no momento da detenção, teve sua peruca apreendida e sua advogada tenta, até agora, recuperá-la junto à polícia.
A publicação do policial, que até o fechamento desta matéria contava com mais de 5 mil compartilhamentos, foi seguida de centenas de comentários de ódio à população LGBT, xingamentos e, inclusive, ameaças de morte. “Depois matam um viado (sic) desses, aí foi homofobia e a culpa foi de um hetero extremista”, declarou um internauta. “Por mim, esse travesti fdp (sic) tinha que levar um tiro na nuca e um pontapé nas costas rumo à vala coletiva”, disse outro. “Deveriam ser todos extintos”, completou.
NOTA DA FÓRUM
A revista Fórum é pautada pela promoção dos direitos humanos garantidos pela Constituição Federal. Apresentamos uma linha editorial assumidamente de esquerda e humanista, baseada na luta contra a opressão e a defesa intransigente da liberdade de expressão, considerada um suporte vital de qualquer regime democrático.
Desta forma, causam estranheza os insultos do sr. Fernando Santiago direcionados ao trabalho da revista, que busca tão somente aprofundar a discussão em torno das denúncias de tortura e tratamento degradante conferidos à transexual Verônica Bolina na última semana. Todas as informações apuradas tiveram como foco fontes oficiais e dados divulgados até o momento a respeito dos fatos, que continuam sob investigação.
Reiteramos nosso compromisso com a verdade e repudiamos qualquer tentativa de intimidação por parte de determinados representantes das forças policiais, o que remonta aos piores momentos da história recente do país, quando jornalistas eram obrigados a conviver com o medo e a censura.
Não por acaso, a Fórum conquistou credibilidade junto aos mais diversos movimentos sociais, políticos, trabalhadores e demais veículos de comunicação. Continuaremos ao lado daqueles que acreditam na participação social e no exercício da cidadania como instrumentos fundamentais para uma sociedade realmente justa e igualitária, livre de todo e qualquer tipo de discriminação.