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Segundo advogada, retratos de crianças em poses sensuais reforçam “estética que absorve a infância em função do consumo e da objetificação feminina”
Por Redação
Um ensaio na revista Vogue Kids (Primavera 2014) tem dado o que falar. Em vez de meninas brincando, com sorriso no rosto e correndo na praia, nenhuma foto remete à infância. As imagens mais parecem revistas femininas de adulto, que, em geral, exploram a sexualidade. O Ministério Público de São Paulo recebeu várias denúncias e vai apurar o caso. A promotora da Infância e da Juventude da capital Fabíola Moran conduzirá a investigação.
[caption id="attachment_51549" align="alignleft" width="400"] "Elas não foram retratadas como crianças", diz advogada (Fotos: Reprodução Garatujas Fantásticas)[/caption]
“As meninas foram retratadas em posições 'frágeis', ou seja, a posição dos braços e pernas e a forma como o corpo está composto colocam essas meninas em um contexto de submissão. A expressão em seus rostos também não mostram alegria e diversão tão comuns em crianças, mas mostram languidão e quase um sofrimento, um tédio em relação a tudo que se passa ao redor. Elas não foram retratadas como crianças. Crianças correm, brincam. E isso é limitante para as futuras mulheres, que, segundo mostram dados de pesquisa, em nossa cultura ‘devem se comportar’ se não quiserem ser estupradas”, explicou a advogada e mestre em Direitos Humanos pela USP, Tamara Amoroso Gonçalves, que é integrante do Cladem/Brasil, da Rede Mulher e Mídia e da Rede Brasileira sobre Infância e Consumo, em entrevista ao blog Garatujas Fantásticas.
Em postagem que atingiu quase 2 mil compartilhamentos, a roteirista Renata Corrêa, destacou que “a Vogue trouxe um ensaio na sua edição kids com meninas extremamente jovens em poses sensuais. Alguns podem dizer que é exagero. Que é pelo em ovo. Eu digo que enquanto a gente continuar a tratar nossas crianças dessa maneira, pedofilia não será um problema individual de um 'tarado' hipotético, e sim um problema coletivo, de uma sociedade que comercializa sem pudor o corpo de nossas meninas e meninos”.
Para Tamara “é preciso observar que quando apresentamos fotos de crianças em posições erotizadas, estamos chamando atenção da sociedade para seus corpos e suas sexualidades ainda em desenvolvimento”. “A hiper-erotização de mulheres e a sua representação como objetos sexuais é comum em nossa cultura permeada pelo consumismo e comunicação de massa”, diz Tamara. É comum as mulheres aparecerem em imagens sexualizadas, reduzindo mulheres ao sexo, como como objetos de desejo. “Trazer essa problemática para o universo infantil é cruel ao antecipar e pré-moldar as crianças a se comportarem de um determinado jeito, extremamente limitado. É trazer os limites que muitas mulheres vivem na fase adulta para a infância.”