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Para militante LGBTT, despreparo da sociedade em geral é causa de exclusão social de transexuais, dificultando a entrada no mercado formal de trabalho
Por Isadora Otoni
[caption id="attachment_34879" align="alignleft" width="300"] Para militante LGBTT, Enem cumpre uma importante função social (Marcello Casal / Agência Brasil)[/caption]
Após o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2013, realizado no último fim de semana, relatos de candidatos transexuais que realizaram a prova repercutiram na internet. Devido à diferença entre o nome social e o nome registrado nos documentos de identificação, os candidatos passaram por longos processos de reconhecimento. As reclamações apontavam não só o prejuízo no tempo de realização do exame, como também o constrangimento passado em frente aos outros candidatos.
Felipe Henriques, de 17 anos, por exemplo, realizou a prova em Governador Valadares (MG), onde foi interrompido três vezes para passar por averiguação de dados. O jovem relatou ao Estadão que um fiscal riu ao conferir sua identidade com nome de menina, e perguntou: “Isso é o seu nome, rapaz?”. O estudante precisou assinar seu nome conforme o escrito nos documentos, e mesmo assim passou por mais constrangimento: “Ele levou o papel e mostrou meu RG para outros ficais. Todos ficavam apontando para mim. Segundo o chefe da sala, estavam tentando fazer 'reconhecimento visual’”.
Após assinar mais papéis e confirmar novamente os dados, Felipe sentiu que seu desempenho foi prejudicado. “Saí da sala duas vezes porque não conseguia fazer a prova e acabei chorando pelo constrangimento”, contou ele.
[caption id="attachment_34881" align="alignleft" width="200"] Luísa Stern ressalta o papel social do Enem, mas critica o tratamento preconceituoso com candidatos transexuais (Reprodução / Facebook)[/caption]
O Ministério da Educação já orienta as instituições de ensino para o uso do nome social, porém, a falta de respeito a essa orientação ainda é um dos principais motivos para a evasão escolar de transexuais, como relata Luísa Stern, advogada e militante dos direitos LGBTT. “O Enem peca em detalhes como o tratamento preconceituoso dado a candidatas transexuais, pois essa população já vive no limite da exclusão social e ainda tem prejudicado seu acesso à prova e, quando consegue, o seu rendimento, devido ao constrangimento passado”, opinou a advogada.
Luísa sugeriu que a adoção do nome social de travestis e transexuais seja feita nos formulários de inscrição, lista de presença e nas provas. Ainda assim, a militante destacou a importância do Enem, que tem como base a inclusão. “O Enem cumpre com uma importante função social, pois vem servindo de base para o ingresso direto em muitas universidades, ou como critério para concessão de bolsas”, ressaltou ela.
A advogada também observou que o nome social e o despreparo em relação aos transexuais não é só um problema das instituições de ensino. Para ela, esse é o motivo para exclusão social: “É uma barreira para a obtenção de emprego no mercado formal de trabalho, deixando quase que como única alternativa, o trabalho na prostituição ou na área dos serviços de moda e beleza”.