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Sobre o bolsonarista não praticante – parte 2

A lista de tipos de bolsonaristas não praticantes é extensa. São personalidades variadas, avariadas, ecléticas, e, claro, malucas

Bolsonaro com jornalistas na sede da Polícia Federal em Brasília.Créditos: Valter Campanato/Agência Brasil
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O bolsonarista não praticante (independentemente de sua classe social) é identificado por um sentimento característico: odeia o PT, principalmente o presidente Lula. Por outro lado, ele pode não ter, necessariamente, simpatia pelo “mito-em-si”, mas pelo fascismo que dele emana. Se, em outras épocas, ele escondia os aspectos mais obscuros de sua personalidade, agora basta dizer “eu apoio Bolsonaro”, e todos seus preconceitos e ódios podem ser explicitados sem maiores problemas. 

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A lista de tipos de bolsonaristas não praticantes é extensa. São personalidades variadas, avariadas, ecléticas, e, claro, malucas. Na primeira abordagem a esse tema, foram destacados o armamentista sem arma, o machista que nunca agrediu a esposa, o homofóbico “moderado”, o trabalhador anti-direitos, o envergonhado que votou em Bolsonaro em 2018 (mas diz ter votado no Amoêdo) e, enfim, o jornalista da Globo, Folha, Veja e Estadão. 

Podemos acrescentar um leque de figuras a esse horroroso elenco. Como primeiro exemplo, temos a “dona de casa misógina”. Ela é bolsonarista “por tabela”, pois, quem viveu para casar e servir a um marido, não tomaria uma posição política divergente da dele. É o típico oprimido que adota o opressor. 

Outro bolsonarista não praticante que não podíamos deixar de citar é o “funcionário público neoliberal”. Se realmente praticasse os dogmas do bolsonarismo, além de conservador nos costumes, ele também seria “liberal na economia”, ou seja, trabalharia no setor privado. 

Ainda nessa linha, há o bolsonarista não praticante que é usuário do SUS e educou os filhos em escolas públicas. Trata-se de um indivíduo relacionado às classes populares. Como todo bolsonarista da elite, discursivamente ele abomina qualquer tipo de serviço do Estado, mas não possui condições de usufruir de saúde e educação privadas.  

Além disso, apesar de denunciar as “políticas do PT para sustentar vagabundo”; na prática ele recorre a todo e qualquer benefício social que o governo disponibilize. 

Como bom negacionista, durante a pandemia da Covid-19, o bolsonarista não praticante compartilhou fake news sobre as vacinas e seus supostos efeitos colaterais. Porém, burlando um dos dogmas da extrema direita brasileira, ele completou o ciclo vacinal contra o novo coronavírus. Evidentemente, para ficar bem entre seus pares, vai jurar que isso não aconteceu.

Ao contrário de muitos bolsonaristas praticantes ligado ao agro, o bolsonarista não praticante jamais usurpou terra alheia ou explorou trabalho escravo. Nessa área, sua única atuação é bradar aos quatro cantos do mundo que o MST é “terrorista”. 

Ele também nunca sonegou imposto, conforme já aconselhou o próprio mito, em entrevista à TV Bandeirantes, no final dos anos 90. Mas, mesmo não sendo ladrão do erário público, isso não o impede de, nos grupos de WhatsApp, sempre evocar a máxima: “imposto é roubo”. 

E o do jovem bolsonarista não praticante? Nas festinhas de família tece grandes elucubrações conservadoras, para deleite dos tios e tias de extrema direita; mas quando não está sendo observado, experimenta todos os entorpecentes possíveis e aventuras sexuais. 

Pressupomos que o bolsonarista não praticante, antes de ser arrastado pelo tufão fascista que vem rodando o mundo, era um cidadão “não praticante da democracia”. Um ser que não entende, não liga, não se interessa pela política e não vota. Seria ótimo que voltasse a isso, pois todo bolsonarista, calado em casa e longe das urnas, presta um grande serviço à nação brasileira. 

*Francisco Fernandes Ladeira é doutorando em Geografia pela Unicamp e Especialista em Jornalismo pela Faculdade Iguaçu. 

*Aurélia Hubner Peixouto é doutoranda em design na Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação na Universidade Europeia.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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