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Record e mídia sionista atacam deputado João Daniel para legitimar genocídio em Gaza

João Daniel publicou em sua rede diversas fotos da conferência Anti-apartheid, mas uma tem sido utilizada para incentivar o ódio contra ele; a que aparece ao lado Basem Naim, médico e ex-ministro da Palestina.

João Daniel na foto em que aparece ao lado Basem Naim, médico e ex-ministro dos Esportes e da Juventude do governo palestino.Créditos: Rede X / João Daniel
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João Daniel publicou em sua rede diversas fotos da conferência Anti-apartheid, mas uma tem sido utilizada para incentivar o ódio contra ele; a que aparece ao lado Basem Naim, médico e ex-ministro da Palestina.

Nos últimos dias setores mais conservadores da grande mídia, especialmente a Rede de TV ligada à igreja universal no Estado de Sergipe, têm disseminado fake-news contra o parlamentar sergipano por este ter participado da Conferência Global Anti-apartheid sobre a Palestina, em Joanesburgo, África do Sul, ocorrido de 10 a 12 de maio. Na ocasião, João Daniel publicou em sua rede diversas fotos e conteúdos sobre o encontro, mas uma foto em específico tem sido utilizada para incentivar o ódio contra ele; a que aparece ao lado Basem Naim, o médico, ex-ministro da Saúde e também ex-ministro dos Esportes e da Juventude do governo palestino.

Naim, que morou na Alemanha, onde cursou medicina e fez doutorado, trabalha no hospital Al Shifa, na Faixa de Gaza e relata os horrores praticados por soldados israelenses que já matou já matou mais de 35 mil palestinos, sendo a maioria crianças e mulheres. Naim é filiado ao partido político Hamas e isso bastou para que as fake-news fossem disseminadas.

Algumas publicações, dentre elas programas de TV da Rede Record em Sergipe, acusam o deputado de “envergonhar o estado” por ser “apoiador do terrorismo”, ter tirado uma foto ao lado de um “líder terrorista”, que seria um “criminoso internacional” e que, assim, estaria “zombando” e “concordando” com o “grupo terrorista armado”, Hamas, que “matou famílias, estuprou, raptou jovens, crianças, idosos...” [sic], segundo uma apresentadora. Também de “querer apagar da história o maior massacre, mais cruel, mais desumano, mais animalesco, contra civis” [sic] o que, segundo outro apresentador, “é sinal claro de burrice” [sic]. Dentre publicações e abordagens na TV aberta, um deles o ex-deputado federal de esquerda, Fabio Henrique, na época filiado ao PDT.

TV é concessão pública

Limitando-nos à questão da TV, mas estendendo a crítica às demais modalidades de mídia, é importante entender que a concessão de televisão é um serviço público delegado pela União para atender a finalidades de interesses públicos. As emissoras de TV têm a obrigação de cumprir com princípios éticos e legais, sobretudo pelo seu potencial de formação da opinião pública. Qualquer TV deve cumprir com os princípios constitucionais que as regem sob pena, em último caso, de perda da concessão, tamanha é relevância que os fundamentos éticos demandam. Ao disseminar informações falsas, por exemplo, a TV Record além de prestar um desserviço social ao desinformar a sociedade, corrobora com injustiças, fere a Lei ao reproduzir inverdades, mancha a honra das pessoas e atrapalha os movimentos por justiça.

Do deputado e do que deveria ser pauta

A Conferência Global Anti-apartheid sobre a Palestina, que João Daniel participou e deu o seu recado, teve como objetivo ser um espaço para prestar solidariedade ao povo palestino e condenar as práticas de apartheid, genocídio e crimes de guerra cometidas por Israel.

A conferência discutiu formas de pressionar o fim do conflito na Faixa de Gaza, que já matou mais de 35 mil palestinos, sendo a maioria crianças e mulheres. Os ataques israelenses começaram em 7 de outubro de 2023 na Faixa de Gaza após ataque de integrantes do Hamas a Israel. 

Hoje, 85% dos habitantes do território palestino estão desabrigados. Além disso, aproximadamente 1,1 milhão de pessoas em Gaza estão à beira da fome, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), recém-nascidos estão morrendo de fome, além de crianças representarem quase metade dos óbitos. Para a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), 97% da água em Gaza é considerada "imprópria para consumo humano" e a produção agrícola está em colapso depois que as forças israelenses destruíram a maioria das propriedades agrícolas de Gaza.

Imagens e relatos do conflito mostram que a maioria das estruturas atacadas são prédios residenciais, universidades e hospitais, ou seja, estruturas que não têm relação com a guerra, mas que aumentam a amplitude de vítimas civis. Recentemente a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução pedindo uma trégua humanitária imediata para garantir o envio de ajuda humanitária à Faixa de Gaza, no entanto Israel segue sua ofensiva militar à revelia e dificulta a ajuda humanitária para utilizar a fome e a vulnerabilidade como arma de guerra, algo condenado pelo Direito Internacional.

Isso foi reproduzido por essas mídias? Não! 

Ainda que o tema seja relevante e a solidariedade deva ser uma questão de humanidade sem fronteiras, como demonstram diversas manifestações pró-palestinas pelo mundo, incluindo em países aliados a Israel, a parcialidade TV Record demonstra sua solidariedade seletiva ao fechar os para o que o mundo vê, menos ela; o genocídio étnico em curso contra palestinos. 

O mesmo deputado João Daniel também participou no final de abril da 5° Conferência da Liga de Parlamentares por “Al Quds”, realizado na Turquia, que reuniu mais de 600 parlamentares de 57 países para debater a situação da Palestina. Logo, num momento que o mundo se movimenta em torno da causa palestina, alguns setores, aparentemente, estão mais preocupados em esconder os crimes de guerra que Israel pratica e utilizam para isso quaisquer instrumentos de manipulação da narrativa e de inversão de valores ao criminalizar àqueles que se posicionam pró-palestinos, pois o que vale é legitimar o massacre em curso neste momento.

Juízo de valor como notícia

Ao considerar alguém “apoiador de terrorista” e taxar pessoas de criminosas e assassinas, quando não se pode comprovar tais acusações, é fazer sensacionalismo para propagandear uma falsa notícia, mesmo que isso implique em crimes contra a honra da pessoa exposta. No caso em questão, a TV praticou os três principais; calúnia (Art. 138 do Código Penal), ao defini-lo como “apoiador de terrorista”, já que, no Brasil, apoiar o terrorismo é considerado crime (Lei 13.260/16); difamação (Art. 139 do Código Penal), ao imputar o fato ofensivo à sua reputação; e injúria (Art. 140 do Código Penal) pelo teor desonroso e que ofende a sua dignidade.

A TV Record sabe que o deputado não apoia quaisquer iniciativas de cunho terrorista. Ele, inclusive, foi um dos primeiros a discursar no plenário da Câmara dos Deputados em prol da paz, no dia 09 de outubro, numa segunda-feira após os ataques à rave em Israel que resultou na trágica perda de 1,2 mil vidas, principalmente civis. “Todos repudiamos quaisquer atentados a civis”, argumentava o João Daniel, para concluir afirmando repudia “todo ato de violência, como o ato contra Israel” e que fechava seu pronunciamento se “manifestando contra todas as guerras e a favor da paz”.

A TV Record sabe que a causa palestina não é uma causa antissemita, mas antissionista que massacra o povo palestino há décadas. Sabe que a causa não é anti-Israel, mas contesta o governo de extrema-direita israelense responsável pela tragédia humanitária na Faixa de Gaza.

A TV Record, ao contrário do que diz, sabe que o Hamas é um partido político criado em 1987, no contexto da 1ª Intifada, que foi uma das revoltas Palestinas contra a ocupação de Israel. Sabe que em 2006, derrotou o Fatah nas eleições legislativas para a Autoridade Nacional Palestina (ANP), conquistando o direito de formar o novo governo. 

A TV Record sabe que a ONU não considera o Hamas como um grupo terrorista, mas como um partido político. Assim como o Brasil, que é signatário de tratados da ONU e da maioria dos países-membros, incluindo países europeus como Noruega e Suíça, além de China, Rússia, nações latino-americanas, como o próprio Brasil, México, Colômbia, que seguem a definição do Conselho de Segurança, pois este mantém listas de indivíduos e entidades qualificados como terroristas, contra os quais se aplicam sanções. Estão incluídos o Estado Islâmico e a Al-Qaeda, além de grupos menos conhecidos do grande público, mas não o Hamas.

Assim como o deputado João Daniel se solidarizou com as vítimas civis israelenses, “ao lamentar o episódio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelas redes sociais, se referiu ao ataque como terrorista, mas não estendeu tal adjetivo ao Hamas” como informa o canal oficial da presidência.

A TV Record sabe que a Conferência Global Anti-apartheid sobre a Palestina foi um evento oficial promovido pelo governo da África do Sul, que por sua vez convidou o sr. Basem Naim que é cidadão livre, sem qualquer condenação criminal, em nenhum Tribunal do mundo, já deu entrevistas a TVs do mundo todo, incluindo nos EUA, na Austrália, na Europa, dentre outros, não participou de quaisquer ataques terroristas e, portanto, pesar sobre suas costas a pecha de “criminoso internacional”, apenas por ser filiado ao Hamas, tornam as ilações de parcela da mídia, neste caso a TV Record, um crime não apenas contra a honra dos envolvidos, mas contra a causa palestina, tamanho grau de distorção e omissão da veracidade dos fatos.

O que deveria ser pauta

Quando o apresentador elege o ataque à rave israelense, que vitimou 1,2 mil pessoas, como o “maior massacre, maior massacre, mais cruel, mais desumano, mais animalesco” da história, ele não apenas nega os mais de cinco milhões de judeus mortos no horrendo Holocausto, como outras diversas tragédias genocidas da história, tudo para proteger os atuais crimes do Estado israelense. Isso é ético?

O conflito atual na verdade se iniciou em maio de 1948 quando a ONU dividiu o território da Palestina em dois estados: um árabe e um judeu (Resolução 181), mesmo a população palestina sendo o triplo da população judaica, na época. Também definiu a cidade sagrada de Jerusalém como território desmilitarizado e sob-controle internacional. No entanto Israel não respeitou a divisão, passou a invadir o território palestino e cercou Jerusalém. São cerca de 800 mil palestinos expulsos de suas terras, negócios, casas, em que seus ancestrais se instalaram há 12 mil anos.

Até os dias de hoje Israel continua a chacinar palestinos para sufocar este povo e conquistar seus territórios. Estima-se que desde os anos 40, mais de 600 mil vítimas palestinas foram mortas por forças israelenses.

Observe TV Record: ontem foram mais de 600 mil vítimas palestinas mortas por forças israelenses, neste momento são mais de 35 mil palestinos, maioria crianças e mulheres, todos civis, havendo relatos de muitos estupros de mulheres e crianças por soldados israelenses, diversos vídeos de corpos sendo explodidos, pessoas morrendo de fome, cirurgias sem anestesias porque as tropas não permitem a entrada de medicamentos, nem de água, muito menos comida. Hospitais sendo implodidos, universidades, prédios residenciais, infraestrutura que não tem a menor correlação com a guerra, serve apenas para destruir o país e gerar dor na população. 

O que isso tem de ético? Não acham que isso sim mereceria repúdio, matérias, testemunhos, denúncias?

A UNRWA, braço das Nações Unidas para assistência aos refugiados palestinos, divulgou em seu último relatório (16 de abril) a existência de aproximadamente 5 mil reféns palestinos, tidos como “presos políticos” em prisões israelenses, incluindo 160 crianças, sem qualquer acusação formal, nem julgamento, expostos a maus-tratos, abusos sexuais e torturas cometidas pelo exército israelense. Não se trata de achismo, são dados oficiais. A TV Record vai interceder por esses reféns também?

Ou a TV Record precisa assumir que lado e continuará apedrejando àqueles que lutam pela causa palestina, como Nelson Mandela, líder sul-africano que lutou contra o regime racista, segregacionista do apartheid e passou quase 30 anos preso por sua causa. Palavras de Mandela: “A nossa liberdade é incompleta sem a liberdade dos palestinos”. Mandela, assim como o maior líder palestino, Yasser Arafat, que assinou um acordo de paz, também infringido pelo Estado Israelense, morreram como mártires aclamados pelo mundo, mas em suas respectivas lutas foram perseguidos, presos injustamente, chamados de terroristas por líderes e mídias imperialistas e demais não-coincidências que se replicam pelas práticas de comunicação e propaganda vistas no nazismo.

Qual o limite da desonestidade intelectual, da má-fé, da frieza e do desprezo com a vida humana e com a verdade TV Record?