VIOLÊNCIA POLICIAL

Deus cria, a PM de SP mata! – Por Luís Alberto Alves

A população não paga imposto para morrer nas mãos da polícia, mas para receber proteção

Ato contra a violência policial em São Paulo.Mulheres seguram cartazes pedindo fim da violência da PMCréditos: Paulo Pinto/Agência Brasil
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O cidadão paulista tem motivos para ficar com medo da PM. Caso não seja branco e rico, a situação piora. Pesquisa revela que, neste ano, 441 pessoas foram executadas por agentes das polícias civil e militar do estado de São Paulo. Em 2023, este triste número era de 247, alta de 78% nas execuções. Em 2024, das vítimas executadas pelas polícias civil e militar, 283 foram identificadas como negras (classificação de pardas e pretas, segundo o IBGE) e 138 brancas, já outras 20 tiveram raça ou cor ignoradas.

Para se ter ideia do extermínio provocado pela Insegurança Pública do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de cada três vítimas das armas de fogo dos seus policiais, dois eram negros, ou seja 64% do total dos mortos. Três exemplos revelam motivos para a população, infelizmente, ter medo da PM ou Polícia Civil no estado de São Paulo: um rapaz foi executado com 11 tiros após furtar pacotes de sabão num mercadinho, uma criança de 4 anos morreu, na Baixada Santista ao, ser alvejada em meio à ação policial naquela região.

Luís Alberto Alves - Foto: Arquivo Pessoal

Violência

Recentemente, um vídeo mostrou um suspeito sendo jogado de uma ponte durante abordagem num bairro da Zona Sul de São Paulo. Estes tristes exemplos revelam motivos para a população sentir medo ao se deparar com um carro da polícia, durante o dia ou à noite. Caso seja pardo ou preto é grande o risco de se tornar número na estatística de vítimas de violência de quem deveria proteger e não matar o cidadão.

Como pardo, sempre tive receio de circular durante a noite, principalmente quando morava na periferia, exatamente na Zona Norte, região da Freguesia do Ó. Quem me conhece no meio jornalístico sabe que sempre gostei de andar de blazer e gravata. Alguns até hoje não compreendem essa minha postura. Explico: de camiseta, os policiais me consideram suspeito. De blazer e gravata, imaginam que eu seja advogado ou promotor. Infelizmente, Deus cria o ser humano, mas a PM de SP mata, a qualquer hora do dia.

Essa postura precisa mudar rapidamente. A população não paga imposto para morrer nas mãos da polícia, mas para receber proteção. Não é mais possível a violência se manter como política de estado. Criminoso não tem sexo, cor, idade, religião, condição social. É preciso mudar essa postura assassina de que na periferia só reside bandidos. Que trabalhador que chega à noite do serviço ou da escola seja bandido. É muito ruim quando o cidadão de bem começa admirar o crime organizado quando deveria repudiar, porém os membros dessas facções têm mais respeito pela população do que a polícia.

*Luís Alberto Alves é jornalista, editor do blogue Hourpress, trabalhou durante 3 anos como repórter de Segurança Pública. Nesta trajetória cobriu 12 chacinas na década de 1990.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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