O hidrogênio verde (H2V) é atualmente a maior aposta para a transição energética sustentável e a descarbonização do planeta. Como toda nova tecnologia em fase de implementação, o H2V ainda é pouco conhecido pelo público em geral. Em função disso, vários mitos ainda proliferam pelas redes sociais. Desmistificar o tema, com informações simples e factuais, é relevante para que a implantação da tecnologia não seja obstruída por opiniões infundadas.
O primeiro mito errôneo sobre o hidrogênio verde refere-se a supostas dificuldades logísticas para sua armazenagem. A verdade é que o combustível pode ser armazenado sem maiores percalços, sobretudo em sua forma gasosa. Tal armazenamento é geralmente realizado por meio da compressão do gás em alta pressão. Nesse processo, o hidrogênio gasoso é comprimido em recipientes robustos, conhecidos como cilindros de alta pressão, feitos de materiais como aço ou compostos reforçados com fibra de carbono. Esses cilindros especiais suportam pressões elevadas, tipicamente entre 200 e 350 bar. Desse modo, o hidrogênio verde pode ser armazenado, inclusive em postos de gasolina, da mesma forma que o gás veicular, porém em cilindros que resistem a uma pressão maior.
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A segunda percepção imprópria sobre o H2V refere-se a supostos problemas com a logística de transporte e abastecimento. Na realidade, a distribuição do hidrogênio verde, em larga escala, é feita em dutos, da mesma maneira como a distribuição do gás comum, mas com pressões mais elevadas. Nesse processo, geralmente utiliza-se aço ou ligas metálicas resistentes à corrosão, devido à natureza altamente erosiva do hidrogênio. O gás é comprimido e injetado nesses dutos especialmente projetados, onde é transportado a longas distâncias. De modo análogo, o hidrogênio pode ser carregado por caminhões convencionais de transporte de gás, adaptados para maiores pressões.
A terceira percepção incorreta refere-se ao custo e às supostas dificuldades com o processo de fabricação dos eletrizadores, componentes essenciais na geração do H2V. Não é verdade que haja problemas instransponíveis no fornecimento de metais nobres para a fabricação dessas peças. Os eletrizadores utilizados na produção do H2V são geralmente fabricados com eletrodos de platina ou catalisadores à base de metais nobres, como o rutênio, o irídio e o paládio. Esses metais nobres são minerados em diversas partes do mundo, incluindo a África do Sul, a Rússia e o Canadá. A oferta atual é estável, apesar de as reservas mundiais serem pequenas. Ainda que surgissem dificuldades associadas à escassez desses materiais, entretanto, eletrizadores poderiam ser produzidos também a partir de membranas de troca iônica de polímeros sólidos. Por outro lado, observam-se avanços recentes em termos de diversificação das fontes dos eletrizadores. Além disso, nota-se avanço crescente na reciclagem dos metais utilizados e na pesquisa de materiais alternativos. Ou seja: nada indica que haverá, no futuro, problemas instransponíveis na cadeia de fornecimento dos insumos necessários para a fabricação de eletrizadores.
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Durante os 300 mil anos de sua existência, a espécie humana somente passou a utilizar os combustíveis fósseis, em larga escala, nos últimos dois séculos. A chegada do hidrogênio verde como principal fonte energética do planeta certamente alterará o paradigma atual, que se revelou altamente prejudicial para o meio ambiente. Trata-se, por certo, da maior transição energética da história recente da humanidade. Mitos e inverdades tendem a povoar o imaginárim em todos os processos radicais de mudanças paradigmáticas. Dessa vez, não será diferente. Divulgar verdades factuais sobre o hidrogênio verde, desfazendo equívocos e percepções inexatas, é fundamental para que o Brasil não perca espaço na largada da atual corrida iniciada com a transição energética.
*Danilo Zimbres é diplomata de carreira e ex-chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação