É incrível o poder decisório que uma televisão possui. No último mês, fiz uma denúncia grave no plenário da Assembleia Legislativa do Paraná, indícios e uma sucessão de fatos que colocava em dúvida a licitação das loterias no Estado, com doações de campanha dos CPFs ligados a uma empresa vencedora, em que a própria equipe técnica do Tribunal de Contas considerou “sorte ou direcionamento licitatório”.
Silêncio! Absolutamente NENHUMA televisão noticiou o fato. O silêncio, até hoje, sobre este assunto, é sepulcral! Talvez seja pela quantidade absurda de verbas pagas às TVs pelo governo estadual, ou porque acharam que era uma pauta ‘menor’ do que noticiar a feira do bairro. Além disso, a busca de cliques e likes além da exclusividade, fizeram escutarmos por aí que “por não ser uma exclusiva, as editorias perderam o interesse”.
Enxergam o tamanho do absurdo? Televisões que deveriam mostrar a realidade para as pessoas fazem suas pautas baseadas em estratégias de mídia social. Viralizações e tiktokers elevados ao extremo, cai o diploma de jornalismo e sobem as métricas da rede social.
Vivemos na era da informação, basta abrir uma rede social qualquer para que tenhamos uma inundação de dados difusos, que às vezes mais confundem do que auxiliam o processo de entendimento da realidade. A televisão ainda serve como um aglutinador, a separação do ‘joio do trigo’ que entrega notícia mastigada para a população, para que essa avalie seus governantes e tome decisões baseadas naquilo que sabem.
Mas como falar em democracia, se os meios de comunicação não informam? Concordam comigo que um deputado, qualquer que seja, subindo no plenário e fazendo uma denúncia grave como esta, deveria no mínimo ser reproduzido por todos os meios? Que caberia à população fazer juízo de valor sobre a validade, ou não, daqueles argumentos?
O filtro utilizado é absurdo, tratam o eleitor como um consumidor de amenidades, que quer apenas saber da festa do feijão, da banda que visitará a cidade ou do cidadão que bateu o recorde de comer cachorro-quente. Isso cria gerações desinteressadas na política, que não debatem e não sabem como seu governante gasta o dinheiro público. Não podemos tratar o povo com pão e circo!
Não serei ingênuo ao tratar a televisão como entidade neutra. Não é e ninguém será, eu não sou, você não é. Porém ao tratar da coisa pública, não devem existir filtros de informação, ela deve ser dada, mesmo que analisadas de diferentes formas. Cabe a posição ideológica da emissora na análise dos fatos, não na decisão se a população deve ou não saber daquilo. Desmintam, investiguem, relativizem... Não censurem! Uma mídia que sempre trata de censura, faz também aquilo que mais condena. Esse viés cria um desequilíbrio na representação política, preferência clara por não ofender aquele que dá lucro, mesmo que isso custe os valores democráticos da emissora. A diversidade de opiniões, fundamental para a democracia, acaba sendo suprimida por interesses particulares.
Preocupa o sensacionalismo da produção de conteúdo que seja correlativo, com a produção de conteúdo de fácil consumo, isso acaba transformando questões políticas complexas e multifacetadas em narrativas simples e polarizadas. Este processo pode gerar dificuldades na compreensão pública dos fatos e limitar a capacidade de tomar decisões.
Além disso, a centralização das pautas políticas e a consonância da televisão com quem está no governo, faz com que pautas políticas marginalizadas sejam excluídas do debate público. Aqueles que não aparecem no que é comercialmente interessante para as emissoras são deixados à margem da política, ou seja, a TV acaba contribuindo para a desigualdade social e política do país.
Portanto, é importante questionar o papel da televisão na nossa democracia. É preciso democratizar a comunicação e isso não tem nada a ver com controle estatal ou coisa do tipo. E, sim, termos mais jornalismo sério, sem filtros, que trate de regulamentações mais rigorosas, que evitem a concentração de propriedade da mídia ao mesmo tempo que ocorra uma maior conscientização das emissoras, para que entenda seus papéis como educadoras da política, seja fiscalizando o poder público, como informando o que acontece sem filtrar aquilo que não a interesse.
Concluindo, a televisão tem potencial de ser uma ferramenta poderosa para o engajamento político ou para sua omissão. Hoje, ela é omissa em muitos casos e isso gera ameaças à democracia.
*Requião Filho é deputado estadual (PT-PR)
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum