OPINIÃO

"É proibido proibir", meu presidente - Por Domingos Leonelli

Mais do que nunca precisamos de ideias novas

O presidente Lula.Créditos: Ricardo Stuckert
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O Presidente Lula algumas vezes confunde o seu adorável jeito popular de falar com a complexidade dos fenômenos. Em certos casos ele reconhece os equívocos pede desculpas de forma sincera e clara, a exemplo das referencias à saúde mental dos brasileiros. Em outros ele corrige o sentido contextualizando melhor as falas como no caso da guerra da Rússia x Ucrânia.

Mas existem casos em que parece que os seus pronunciamentos correspondem a equívocos de convicção. A determinação feita na ultima reunião ministerial afirmando que os ministros ESTAVAM PROIBIDOS DE TER NOVAS IDEIAS, passa a impressão de que o seu governo não pretende inovar em nada.

Se juntarmos essa proibição ao fato de que acertadamente , do ponto de vista popular, o nosso governo está gastando o seu estoque do passado com o reforço ao Bolsa Família, a retomada do programa Mais Médicos, o reforço à Farmácia Popular, do Minha Casa Minha Vida e agora com a retomada do PAC, pode passar a ideia de que o governo Lula 3 será uma mera repetição do governo Lula 1 e 2.

E, objetivamente, não será. Não será porque a sociedade brasileira é outra em todos os terrenos. Tanto na politica quanto na economia, na cultura e na própria sociedade.

Embora tenhamos problemas sociais seculares que perduram até hoje, a maneira de enfrentá-los com certeza não será a mesma de vinte anos atrás.

A politica, por exemplo, de vinte anos atrás, não contava com a existência de uma ultradireita organizada, subversiva, armada e com um forte lastro popular. O Congresso Nacional reflete a aliança dessa ultradireita com o mais escrachado fisiologismo movido a dinheiro. A economia, tanto no plano externo, como no plano nacional, sofreu imensas mudanças no capital e no trabalho. E na sociedade os problemas de saúde, educação e segurança pública tomaram proporções e formas cada dia mais complexas.

Mais do que nunca precisamos de ideias novas. A criatividade, além da sua importância na nova economia mundial e brasileira, passou a ser gênero de primeira necessidade para governos e partidos. E nesse ponto confio muito na habilidade criativa do próprio Lula em realizar aberturas para o centro, dividir o território inimigo e atrair setores econômicos e sociais.

Alguns avanços em relação aos seus governos passados já foram feitos com bastante êxito politico. O enfrentamento ao capital financeiro no front do juros é um exemplo. Com uma mão o governo fez uma grande concessão ao mercado financeiro com o Arcabouço Fiscal, com a outra está num corajoso confronto aberto com o Banco Central. Também na politica externa retomando a liderança da América do Sul e marcando uma saudável distância dos ditames norte-americanos.

Mas depois do estoque do passado, bem vindo e acertado, repito, precisamos de novas bandeiras criativas para o presente e para o futuro. Ideias com forte apelo popular, especialmente para a juventude. O SUS precisará de um urgente fortalecimento depois de sua fase áurea na pandemia. A revolução criativa na educação precisa acontecer. O choque de economia criativa na Amazônia sem derrubar uma árvore nem envenenar nenhum rio, transformando nosso ativo ambiental da biodiversidade em produção sustentável nas cadeias globais de valor. Assegurando emprego e renda para os 28 milhões de amazônidas e orgulho para todos os brasileiros.

Criar bandeiras centrais fortes e com apelo de soberania nacional como a de um Brasil Potência Criativa e Sustentável.

Uma fala presidencial nunca se restringe ao ambiente em que é pronunciada, mas representa uma mensagem para toda a sociedade.

Assim, proibir os ministros de ter novas ideias, pode passar para a sociedade a ideia que se quer inibir o maior potencial do nosso povo que é a criatividade.

Assim como a rebelião da juventude francesa de 1968 decretou e Caetano musicou genialmente : "Eu digo não, eu digo não. É proibido proibir, é proibido proibir "...

*Domingos Leonelli é coordenador do site socialismocriativo.com.br e autor com Dante de Oliveira do livro “Diretas Já, 15 meses que abalaram a ditadura" 

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum