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O que fazer para evitar massacres como o de Blumenau? – Por Bruna Camilo

Esse ataque foi planejado por garotos radicalizados que encontraram em fóruns o acolhimento que precisavam, enxergaram em outros rapazes ressentidos a razão de cumprirem com seus desejos: matar e se tornarem heróis.

Movimento em frente à escola onde ocorreu o atentado em Blumenau.Créditos: Twitter
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Estamos todos consternados, perplexos com o ataque à creche em Blumenau/SC. Vários são os “porquês” que aparecem, hipóteses diversas. A justificativa mais comum: o assassino sofria com problemas mentais. Não é possível generalizar o sofrimento mental de quem promove ataques. Muitos são filhos saudáveis do patriarcado e do nazismo.

A radicalização do nosso país segue a passos largos enquanto tentamos compreender, sem sucesso, o que ocorre na mente de um algoz. Mas, diante de tamanha radicalização, é possível prevenir mortes ou barrar esse processo extremado? Antes de responder a essa pergunta, apresento o motivo desses crescentes ataques desde o fim de março.

Inicio com a frase: nada é por acaso. Não existe coincidência na extrema direita. Abril é um mês referência para ataques, principalmente em escolas, no Brasil. O Massacre de Realengo, ocorrido no dia 7 de abril de 2011, é visto como exemplo a ser seguido por grupos misóginos e nazistas. Esse ataque foi planejado por garotos radicalizados que encontraram em fóruns o acolhimento que precisavam, enxergaram em outros rapazes ressentidos a razão de cumprirem com seus desejos: matar e se tornarem heróis. Abril é um mês de comemoração, afinal, Realengo vive no imaginário dessas pessoas.

Entretanto, o que pode ser feito para compreender a mente de um radicalizado ou conter ataques como do Blumenau? É urgente pensarmos em ações para prevenir ou combater esses eventos. Diante disso, apresento cinco pontos importantes para reflexão de possíveis ações. A primeira é essencial: não mencionar, expor fotos ou fazer qualquer referência aos assassinos na internet. Pode ser que este texto esteja fazendo isso, mas o intuito é alertar. O principal objetivo de massacres é que os assassinos sejam vistos, tenham fama, sejam visualizados em todos os jornais. Desta forma, se tornam heróis em seus espaços de atuação, inesquecíveis.

A segunda reflexão é sobre a formulação URGENTE de políticas públicas para conter a radicalização, seja nazista, misógina ou qualquer outra. É necessário compreender o processo de radicalização, envolver profissionais de diferentes áreas. Eles não se importam em serem presos. Aliás, reduzir a punição ao cárcere não é a solução para nenhum crime. Nos caso de misóginos e nazistas, a prisão não é um problema, não se importam em serem presos após cometerem algum ataque. Exemplo disso é o assassino da creche em Blumenau, ele se entregou após matar quatro crianças e deixar outras feridas em estado grave. O objetivo foi cumprido, se tornaram heróis, serão enaltecidos por seus grupos, não importa a consequência.

 O terceiro ponto é sobre a urgência da formulação de um protocolo unificado, pensando em cada detalhe sobre como lidar com um possível ataque, principalmente durante e após acontecer. O quarto ponto diz sobre a regulamentação da internet diante de tantos fóruns e plataformas que permitem a organização desses grupos misóginos e nazistas. Não é aceitável permitir que o ciberespaço seja uma ferramenta de produção, propagação e manutenção da violência e discursos de ódio.

Por fim, definitivamente, polícia nas escolas não é a solução. Dados apontam que que a presença da polícia nas escolas não diminui ataques. O espaço escolar deve ser um ambiente de conhecimento, socialização, seguro e de estímulo à criatividade. As prioridades dos governos devem ser, portanto, a formação das equipes escolares e o fortalecimento das políticas intersetoriais de educação, saúde e assistência social.

Bruna Camilo é doutora em Ciências Sociais pela PUC-Minas e mestra em Ciência Política pela UFMG