BOLSONARO STORE

Bolsonaro Store – A pequena loja dos horrores, por Carlos Castelo

Alvina e Elesbão fazem hipotética visita à inacreditável loja física enquanto passeiam pelo Distrito Federal

Armas.Créditos: Toxin/PlaygroundAI
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Escrito en DEBATES el

Carlos Castelo*

A Bolsonaro Store nasceu para manter vivo na memória os feitos do 38º presidente do Brasil. Para isso, desenvolve produtos destinados a um público conservador, de direita, e muito exigente. Alvina e Elesbão passeavam, de Uber, pelo Distrito Federal quando avistaram a logomarca na porta do recém-inaugurado estabelecimento físico. Como apoiadores de primeira hora do capitão, não podiam deixar de fazer uma visita. Foram recebidos pelo vendedor Eliandro.

- É a primeira vez que vêm aqui na Bolsonaro Store?

- Sim, disse Alvina. Parabéns, a loja é linda.

- Estamos dando tudo para manter o legado do melhor presidente que o Brasil já teve.

Elesbão concordou, efusivamente.

- Posso sugerir que vejam alguns itens? – perguntou Eliandro.

- Claro! – o casal disse em uníssono.

Eliandro os conduziu a um tour. Apanhava alguns produtos da prateleira e dava maiores detalhes:

- Este é o chinelo de dedo que o presidente ama usar. Nós fizemos uma versão especial, em couro de gado, e a assinatura dele em alto relevo.

- Classe total.

- É um dos itens mais vendidos, junto com a réplica da faca do Adélio Bispo.

- Eu quero, eu quero! – repetia Alvina.

- Separa dois chinelos de dedo, um tamanho 37, outro 41. Vou levar uma faca também.

- Perfeito, reservados.

Foram ao setor de roupas.

- Que lindo este vestido de poá!

- Foi moda entre as poderosas do governo, a senhora se lembra? Michelle, Damares, Regina Duarte lançaram a tendência. Diziam até que, “quem usa, não tá fraca”.

- Ah, mas quero experimentar um já...

- E o senhor, não gostaria de dar uma olhadinha nas camisetas?

- Sim, por favor.

- Todas com fotos exclusivas do presidente. Produzidas em países que usam mão de obra infantil. Temos estampadas com as frases “É isso daí, talkei?”, “Não sou coveiro”, “Eu sou o Trump do samba” e “É a égua sarnenta e desdentada da tua mãe!”

- Pode embrulhar todas para presente. Vou dar para o pessoal do grupo de zap. E me diz uma coisa: tem algo para criança?

- A loja ainda é nova, não temos muita coisa para a garotada. Mas talvez vocês gostem disto. É o “Pum de Palhaço”.

- Olha só que interessante. Como funciona?

- A criança aperta este saquinho de plástico flexível, ele emite um som de um traque, e solta talquinho.

- Nossa, nosso netinho vai pirar, não é, Alvina? Queremos um.

- Leva outro pra enteadinha do teu filho. Senão dá ciumeira.

- Bem lembrado, dois puns de palhaço.

- Reservados. Mais alguma coisa, senhores?

- A gente não conhece bem Brasília, estamos mortos de fome, teria algum café aqui pela região da loja?

- Há algumas opções, mas não ficam nada perto.

- Humm...

- Fiquem tranquilos. Enquanto vocês assistem ao vídeo do ataque aos prédios dos Três Poderes, eu peço pra providenciarem cafezinho e pão com Leite Moça. Cortesia da casa.

* Carlos Castelo é piauiense, de Teresina, e reside em São Paulo desde os três anos de idade. Além de cronista e frasista juramentado, é sócio-fundador do grupo de humor Língua de Trapo.