Eram duas da madrugada do segundo mês de agosto quando três homens invadem um restaurante de luxo no centro da cidade. Munidos de alicates e instrumentos para arrombamentos, roubam comida e bebidas. Na lista, camarão, carnes nobres e bebidas alcoólicas de grife. Segundo denúncia dos proprietários foram 500 quilos de camarão, 60 kg de entrecot, 100 kg de filé mignon e 72 litros de uísque. Um prejuízo de R$100 mil.
O inusitado crime chamou atenção da imprensa nacional. Muito provavelmente, uma quantidade desta, não foi subtraída para alimentação direta dos gatunos. Uma quantidade desta é para venda no mercado negro de alimentos. Uma parte já foi recuperado pela Polícia Civil, porém sem encontrar os ladrões. Além da quantidade, chama atenção a qualidade dos alimentos surrupiados.
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O roubo no entanto é simbólico. No Brasil de 2022, segundo a Oxfam Brasil, cerca de 58% da população brasileira convive com algum nível de insegurança alimentar. Apenas 4 em cada 10 domicílios conseguem manter acesso pleno à alimentação. Um universo de 125,2 milhões de brasileiros. Retrocedemos para um patamar equivalente ao da década de 1990
O que chama a atenção é que a epidemia da fome é presente não só nas cidades mas também no campo. O que torna o fenômeno ainda mais delituoso. Nas áreas rurais, a fome é presente em 60% dos domicílios. A insegurança alimentar em nível grave é 18,6% maior do que a média nacional. O grande celeiro do mundo não consegue alimentar nem mesmo seus filhos.
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A fome é política. Resultado de escolhas daqueles que têm o que comer, e que escolhem diariamente quem terá ou não acesso ao mais sagrado dos direitos humanos. Não podemos esquecer que Jair Messias Bolsonaro, no seu primeiro dia de governo, anunciou o fim do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA). Agora, tenta subornar os eleitores com um auxílio emergencial que dura apenas até dezembro deste ano.
O roubo no restaurante de luxo em Blumenau disputou a atenção da mídia nacional com a notícia vinda da capital das Minas Gerais. Miguel, um menino de oito anos liga para a polícia implorando por comida para ele e para os irmão menores. Segundo o relatório acima, no último ano a fome dobrou nas famílias com crianças menores de 10 anos. Eram 9,4% em 2020 agora 18,1% em 2022. Josué de Castro, médico e cientista social brasileiro, presidente da FAO, autor do clássico “Geografia da Fome” dizia que; “Metade da humanidade não come; e a outra não dorme, com medo da que não come.” As notícias acima expressam isso.
*Josué de Souza é Professor, Cientista Social e autor do livro Religião, Politica e Poder (EDIFURB)