O atual governo foi eleito na onda da antipolítica. Surfou na onda que iniciou em 2013. A antipolítica, antes, serviu de plataforma para o golpe jurídico-parlamentar de 2016 e para as antirreformas neoliberais colocadas em curso nos governos Temer e Bolsonaro. No seu caminho, condenou os partidos políticos, os movimentos sociais e tudo que representava o diálogo e o diferente. Somos contra tudo que está aí, diziam eles.
Aliás, o governo Bolsonaro sempre foi o governo da antipolítica. O bolsonarismo trocou a negociação política por uma política de confronto, não só com a oposição, mas também, com o legislativo e o judiciário e a imprensa. Gostemos ou não, política é a arte do diálogo. É nela, que numa sociedade civilizada que inimigos abrem mão das armas debatem em torno dos seus interesses e dificuldades. Bolsonaro é a negação disto tudo. Seu governo é o governo da violência. Não é por acaso a adoração por armas.
Nas últimas semanas parece que este fenômeno transbordou. Do funcionário público e do jornalista que tombaram lutando contra a devastação da floresta, ao pai de família assassinado em frente da esposa e dos filhos em sua festa de aniversário. Todo dia recebemos notícia de mais um crime político no país. Ao lermos as notícias, o sangue escorre pelas palmas das nossas mãos respingados pelas manchetes de política. Sem tarja e sem verniz. Quando se nega a política, resta a guerra.
Um governo em que o presidente da república fez carreira política elogiando a ditadura e torturadores, que foi eleito foi eleito na onda da antipolítica, que não é censurado quando diz em um palanque que vai metralhar os militantes do partido de oposição ao seu, e que defende que todo cidadão tem que ter um fuzil, não podemos esperar a paz. Porém é inocente a leitura de que a violência política é neófita por aqui.
Na frágil democracia nacional, a violência política sempre foi a agenda do dia. Sobretudo contra aqueles que decidiram desafiar os poderosos. Foi assim com os Zumbi de Palmares, Tiradentes e a Inconfidência Mineira, Canudos e Antônio Conselheiro, Contestado e João Maria, Olga, Chico Mendes, Dorothy Stang, Marielle Franco, só para citar alguns.
A violência política que tem sim dois lados. Um busca a justiça, a democracia e o diálogo. O outro, apesar de posar de bom moço e de novidade, nega a política, defendem as armas, a violência e os donos do poder. A bestialidade que vivemos é herdeira da nova política.
*Josué de Souza é Professor, Cientista Social e autor do livro Religião, Politica e Poder (EDIFURB)