SOBERANIA

A quem interessa a privatização da Cemig e de outras estatais? – Por Sara Azevedo

Não à população mineira. Pesquisa do DataTempo revela que 62,9% das pessoas são contra a privatização das estatais. Ainda assim, Zema mira na venda da Codemig

O governador de MG quer privatizar a Cemig e a Codemig.Créditos: Divulgação/Cemig
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Neste ano, mais uma tentativa de privatização da Cemig foi barrada. Depois da instalação da CPI na Assembleia Legislativa, o governo Zema voltou atrás na intenção de vendê-la. Apesar disso, a tentativa de entregar o Estado para o empresariado não parou por aí. Sem chances com a estatal, o governador voltou-se para a Codemig — companhia de desenvolvimento do Estado. Mas daí vem a pergunta: a quem interessa as privatizações?

Não à população mineira. O DataTempo concluiu recentemente que 62,9% são contra a qualquer tipo de privatização e 65,3% não concordam com a venda especificamente da Cemig. Esses dados mostram que a população enxerga o valor dos bens públicos e reconhece o seu potencial para a economia mineira.

Atualmente, a Cemig tem valor de mercado de R$ 30,3 bilhões. No primeiro trimestre deste ano, lucrou R$ 1,46 bilhão. No entanto, de acordo com o seu relatório financeiro, no mesmo período havia a previsão de pagamento de R$ 2,1 bilhões em dividendos (repartição de lucros com acionistas). O valor é quatro vezes o investido pela empresa na Gasmig e nos sistemas de distribuição, de transmissão e de geração de energia — que totalizou R$ 500 milhões.

Ora, parece que há um descompasso entre as demandas da população (melhoria da prestação de serviço), o modelo da gestão financeira da empresa (capital misto) e a solução apresentada por Zema (privatizá-la por completo sob o álibi do cumprimento das contrapartidas do Regime de Recuperação Fiscal).

O projeto de piorar o funcionamento da companhia ficou evidente graças à CPI da Cemig, que trouxe à luz fatos sobre a interferência do governo estadual e do Novo para reduzir o valor de mercado da estatal a fim de vendê-la. A Comissão sugeriu o indiciamento de 16 pessoas — incluindo o presidente da estatal (indicado por Zema), Reynaldo Passanezi Filho, e o vice-presidente do Novo-MG, Evandro Negrão de Lima Júnior — que teriam participado da maracutaia.

Com o caminho atravancado na Cemig, Zema volta suas armas para a Codemig. Aposta no pouco contato do público com a companhia. Diz que a sua venda não afetará a população, porque as suas ações não visam o público final. Como não impactaria se é a Codemig que planeja investimentos em setores estratégicos e visa diversificar a economia do estado?

O discurso privatista é conhecido pela população de Minas. Sabemos os efeitos do choque de gestão e convivemos com as consequências da privatização de empresas como a Vale. Enxugar a máquina pública não é a solução. Em vez de vender a Cemig, a Codemig, a CBTU ou qualquer outra estatal, o que há de ser feito é investir nelas, torná-las ainda mais competentes. A superação da crise passa pelo investimento governamental e pela adoção de políticas visando o aumento da arrecadação, da produção e da geração de empregos.

*Sara Azevedo é vice-presidente do PSOL-MG, professora da rede estadual em Minas Gerais e ex-coordenadora estadual do Emancipa.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum.