Por Armando Holanda (@oarmandoholanda)*
A folia na capital pernambucana só é liberada para quem tem algum parentesco ou grau de ligação com quem manda em Pernambuco. O Carnaval de rua já foi suspenso e/ou cancelado na Região Metropolitana do Recife (RMR) sob a perspectiva técnica de “se houver carnaval, os números de casos podem pipocar”.
Mas, essa lógica não é seguida pela elite da capitania hereditária de Pernambuco. Enquanto a população menos favorecida aproveita o lazer em locais abertos - que são constantemente fiscalizados, observados com lupas dignas de serem chamadas de exclusivas para estas atividades de lazer - como exemplo a praia, a grande mídia local destaca o quanto esses locais estão lotados. Essa minuciosidade de expressar o que está ou não lotado e gerando aglomerações é usada por uma lógica elitista.
Recentemente, a Região Metropolitana do Recife (RMR), sediou dois grandes eventos privados de cunho momesco. A fiscalização sequer “bateu” nesses lugares. A grande mídia local? Muito menos deu uma nota em seus portais on-line ou versões impressas. Mas, uma prévia carnavalesca, que aconteceu no mesmo final de semana do bloco Fika Trankili, que diga-se, estava lotadíssimo e pouco se via os respeitos às regras de convivências definidas pelo Estado, e do casamento de um familiar do Prefeito do Recife, foi parada por policiais e viralizou nas redes sociais. A grande mídia, claro, foi lá e publicou em suas redes sociais e versões impressas a tal aglomeração.
Mas, o que caracteriza uma aglomeração para essa grande mídia? A lógica é simples e objetiva: se você não tiver ligação com o Governo de Pernambuco, você está aglomerando. Se você permanecer ao ciclo privilegiado dos poderosos, você está fazendo evento que respeita às regras. A balança não é a mesma. Muito menos o modelo de julgamento.
*Armando Holanda é jornalista formado pela Universidade Católica de Pernambuco. Pós-graduando em UX pela PUC-RS. Vencedor do prêmio Jovem Jornalista do Instituto Vladmir Herzorg de 2020