A política brasileira precisa ter um olhar sensível em favor da periferia, pois é nela que está a maior força de resistência contra violações de direitos humanos. A brutalidade e a ação injusta do sistema sempre foram barradas pela alta capacidade de sobrevivência e o contorno feito a realidade no cotidiano da comunidade, desde a ostensiva presença militar incapaz de distinguir uma ação equilibrada entre os criminosos e as pessoas trabalhadoras, estudantes, empreendedores, comerciantes e outros, até ausência nos programas de educação, trabalho, saúde, saneamento básico, espaços de lazer e encontros sociais.
Hoje é fácil perceber a existência de uma maquiagem em uma narrativa falsa e que diverge muito da realidade, espalhando que não existe mais falta de cuidado e preconceito com as comunidades. O cinismo político chega a ser tão gritante que o fornecimento de um precário transporte público, veículos velhos com condições horríveis de mecânica ou a construção de um campo de futebol de terra, sem um gramado, pintura de linhas, arquibancada ou criação de praças públicas sem ouvir seus moradores sobre seu desenho arquitetônico, toma forma como política comunitária satisfatória e como um passe mágico e hipócrita os problemas enraizados de décadas de injustiças estão sanados.
Apesar de tudo isso, injustas sociais, a periferia vem sendo o ponto estabilizador da democracia no bruto e tenebroso período de um governo criminoso de Bolsonaro e da extrema-direita, praticante do fundamentalismo, da moral seletiva, conservadorismo separatista, inimigo da ciência e descompromissado com a verdade, além de, ambos serem avessos a harmonia entre os poderes constitucionais, órgãos civis, movimentos e comitês populares e o cidadão comum.
A insanidade nacional do inimigo inexistente chamado comunismo, o patriotismo bizarro de continência a bandeira americana e as orações contrárias nos muros das forças armadas para a ressurreição de um governo autoritário e terrivelmente criminoso e corrupto que infelizmente existiu por meio de um golpe e internacionalmente conhecido como trevoso período da ditadura militar brasileira, não chegou de forma epidêmica e inconsequente nas periferias, que com bravura, resistência e consciência social deu forma a verdade e denunciou ao mundo o governo antidemocrático que assaltou o país com ações criminosas nazistas atualizadas, como exemplo a fake news: propaganda mentirosa nas redes de comunicações digitais.
E como uma legião compromissada com a liberdade democrática e responsável observando a constituição universal dos povos (Declaração Universal de Direitos Humanos) e a carta máxima da república brasileira (Constituição da República Federativa do Brasil), a periferia cumpriu religiosamente seu dever em defesa da justiça social, denunciando, resistindo e com muita bravura fazendo a luta pacífica e intelectual contra o pior governo desde a ditadura militar, o desgoverno que com auxílio da mentira, moral seletiva e realidade distorcida instalou com obscuridade e com mais força desde 2018 e permanecendo por 4 anos no Brasil.
A periferia sim, foi a mais violada durante o atual governo fascista ou de extrema-direita, com consequências terríveis de violações e abandonos dos direitos humanos. Realizou o enfrentamento contra as mais terríveis injustiças dentro do absoluto respeito aos limites constitucionais, às normas sociais estabelecidas, ainda que, o Estado assaltado no fechar dos olhos da verdade democrática, chegando a acreditar que bastava o processo ser democrático que o fascismo seria respeitador de seus institutos, deixou ser contaminado e adoecido pelo vírus e sofrendo a triste epidemia e de difícil cura do fascismo.
O medicamento mais eficaz veio na disputa eleitoral durante o segundo turno, contrário à minha defesa pessoal que foi sempre de vencer as eleições no primeiro turno, o governo Bolsonaro e seu sistema político, o fascismo, pode ser desmascarado, mesmo com a máquina e o recurso público utilizados para dar forma e força a mentirosa realidade de governo “santo”, onde a dose de cura foi dada pela exposição dos sórdidos comentários que vinham do seu âmago contra atividade política realizada por seu adversário, o eleito presidente Lula, em seu ato social no complexo do alemão no Estado do Rio de Janeiro, incluindo os excluídos no debate e na construção política, rompendo com o paradigma de um local formado por pessoas contrárias as leis.
A periferia, ao se identificar com o respeito e acolhimento do eleito presidente Lula, assumiu o protagonismo da disputada eleitoral brasileira, mostrando ser uma força democrática central e pilar fundamental de defesa dos direitos humanos, o que cominou na recuperação da democracia, e, será sem margem para dúvida instrumento eficaz no tratamento e na retirada do estado de alienação fascista que vive uma parte do povo. A retirada será pelo verdadeiro respeito constitucional e pluralidade popular, participação social, inclusão política aos mais necessitados e atualmente excluídos e o respaldo para democracia representativa em punir os seus agressores, pois a ausência de punição será uma criminosa convivência ao vil sistema fascista inimigo do pacto social materializado pela Constituição da República.
*Filipe Fernandes de Oliveira é advogado e articulador no Estado de Minas Gerais do Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum