Por Pedro Fávaro Jr.*
No País de tanta indiferença e desprezo, de tantas ouvidorias surdas e procuradorias que não procuram nada, vale discutir realmente o que seja tara. Sim, tudo em razão da crítica feita por Sua Excelência, o presidente da República, aos diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, no sábado (8), com insinuações sobre a conduta do servidor. "Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí? Qual o interesse das pessoas taradas por vacina?", indagou o presidente, contrário à vacinação de crianças e jovens. Torres reagiu rápido e emitiu nota dura com grande repercussão política, tanta que o presidente agora diz que não disse ou que a sua intenção ao dizer foi mal interpretada. E parece continuar atrás do fígado de Torres.
Tara: acho que esse é um bom assunto sobre o qual se discorrer nesse momento, a partir dessa diatribe. Primeiro, portanto, vamos tratar tara como "interesse exagerado em algo" e, depois, poderemos discorrer sobre ela no seu sentido mais geral e vulgar, entendida com como desequilíbrio mental, falha intelectual, perversão sexual ou depravação.
Se a função principal da Anvisa é a promoção da saúde da população, não parece nem um pouco razoável ter nessa área servidores que não sejam, no sentido de interesse exagerado, tarados por vacinas e seus benefícios, nesse tempo pandêmico. Num cenário assustador, com mais de 600 mil mortes pela Covid 19, melhor ter sempre ali gente tarada em proteger a população adulta e infantil do Coronavírus, em suas mais abjetas variantes, do que ter ali um bando de servidores parvos, alienados ou bajuladores.
Melhor ter esses servidores com essa tara lógica e coerente do que defensores de medidas descartadas no mundo inteiro, como o uso indiscriminado de kits receitados por políticos e não-especialistas com outro tipo de obsessão ou tara que, considerados os conselhos da Organização Mundial da Saúde (OMS), cientistas e imunologistas do mundo inteiro, seria no mínimo uma falha intelectual.
As taras de um ser humano, consideradas algumas áreas das ciências médicas e sociais, podem ser detectadas observando-se três aspectos dessa pessoa. Primeiro, a sua fisiologia - a expressão de seu corpo. Depois, seu foco - no que ele baseia suas ações, a que fim ele as dirige. E por último, observando-se a sua linguagem - o modo como se expressa.
Difícil observar isso na vida privada, das pessoas que se incrustaram nos seus afazeres do cotidiano. Todavia tal observação fica muito fácil quando o ente em questão é uma pessoa pública. Assim, seu agir - comportamentos e pronunciamentos - revelam suas aptidões e, também, taras. Nesse aspecto, a linguagem chula, violenta, desconfiada e agressiva, sempre é indicativa de alguma tara, mas aí como desequilíbrio ou até, Deus nos livre, perversão...
Pedro Fávaro Jr. é jornalista, escritor e diácono permanente da Igreja católica
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.