Por Normando Rodrigues *
Fogo!
Algo gravíssimo aconteceu no dia 6 de maio, mas foi convenientemente ofuscado pelo fogo de armas no Jacarezinho.
No entanto, as duas monstruosidades estão conectadas, embora poucos o tenham notado. Basta ligar três pontos.
Como bem sabem os bolsonaristas, que se preparam para mais uma temporada de incêndios na Amazônia e no Pantanal, o fogo depende do triângulo “calor-combustível-oxigênio”.
Passar o trator
O “crime”, por sua vez, pressupõe o triângulo “oportunidade-vítima-motivo”, e o 1° elemento para o massacre do dia 6 veio de uma doutrina que transforma comunidades em zonas de guerra.
Técnica ineficaz, porém, ótima para produzir cadáveres, bem ao gosto de nossa classe média fascista. Eis o 2° elemento do triângulo, as “vítimas”. A desigualdade as oferece no atacado: pretos e pobres.
Falta o 3° elemento, o “motivo”. Mandado judicial? Repressão ao tráfico de drogas? Tolices.
Intimidação
Qualquer intimidação precisa de assinatura. Na véspera da carnificina Bolsonaro se reuniu com o governador sintético Cláudio Castro, no Palácio Laranjeiras.
Evento com vários auxiliares, público o bastante para isentar o “Mito” das alegações de ordens e comandos e próximo o suficiente para que todos entendam “quem mandou”.
24 horas depois, já com o Jacarezinho pintado de sangue, veio a exigência: "Vai ter voto impresso, porque se não tiver voto impresso, sinal de que não vai ter a eleição. Acho que o recado está dado"
Sequestro
O mesmo STF que restringiu “operações” em comunidades durante a pandemia, em 2018 deu um tiro no voto impresso e deixou explícita a razão: seria o retorno do “cabresto”.
Contra um e outro, o achaque mediante extermínio. Pela manhã, a chacina desmoralizando o STF. À noite, a chantagem com a imposição de Bolsonaro na mesa.
Este foi o objetivo da mortandade: restaurar os currais eleitorais da República Velha. Agora com as milícias no lugar dos coronéis, e nosso Führer no topo da pirâmide.
Preço
O “recado dado” diz que ou STF e Congresso cedem, ou acabarão como os corpos do Jacarezinho. Figurado ou literalmente.
Caso cedam, Bolsonaro não irá parar aí. Em maio de 1924 o deputado Matteotti alertou quanto às extorsões do fascismo:
"Tudo o que ele obtém o impele a novos arbítrios, a novos abusos. É a sua essência, sua origem, a sua única força".
Matteotti foi assassinado pelos fascistas pouco após e durante 20 anos a Itália pagou muito caro por ignorar sua advertência.
*Jorge Normando Rodrigues é assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.