Por Antonio Neto *
Eu lembro, como se fosse ontem, do dia da votação do impeachment da então presidenta Dilma Rousseff, na Câmara dos Deputados. Ainda estão vivos na memória a divisão que separou – e ainda separa – famílias inteiras, assim como o clima de ódio instalado no país. E lembro do frio na espinha que senti quando o deputado Jair Bolsonaro votou a favor da derrubada ilegal de Dilma e saiu aplaudido após proferir as seguintes palavras: “Em nome do coronel Brilhante Ustra, o terror de Dilma Rousseff, eu voto sim!”. Jamais vou esquecer desse dia.
Jamais vou esquecer de olhar para um velho amigo e, reconhecendo nele os olhos marejados que havia em mim – dois velhos companheiros de luta que haviam testemunhado os terrores da ditadura militar – concluir: “Ou a gente para esse cara agora, ou eles vão destruir o país e a democracia de novo”. Nós não conseguimos parar aquele cara. Foram muitos motivos para isso, muitas irresponsabilidades cometidas, mas não é disso de que se trata o meu desabafo.
Lembremos que Bolsonaro foi à TV certa vez para dizer que sim, apoiava a tortura. Que Fernando Henrique Cardoso – com quem tenho enormes diferenças políticas – deveria ser fuzilado junto com outros 30 mil brasileiros e brasileiras. “Tem que matar 30 mil no mínimo!”, bradou alucinadamente na época. Qualquer ser humano – antes de qualquer opinião política – sentiu o gosto amargo na garganta, causado pela indignação e pela impotência, ao ter que assistir aquela crueldade, aquela novela de terror transmitida para todo o país, sem poder fazer nada para impedir.
Bolsonaro virou presidente da República. Durante a eleição de 2018 e de lá para cá, a pessoa mais vil que já se sentou na cadeira presidencial distribuiu desumanidade nas palavras e atitudes. Crimes também não faltaram. Ele chegou ao ponto de trocar o comando da Polícia Federal para proteger o filho meliante das investigações por organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro, comandadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, que resultaram em denúncia à Justiça de Flavio Bolsonaro, do ex-assessor Fabrício Queiroz e de mais 15 investigados, no final do ano passado.
Elegemos o pior presidente da História, e que azar o nosso: a maior pandemia da história da raça humana caiu como uma bomba atômica e invisível sobre nossas cabeças. A partir daí, Bolsonaro saiu do lugar de criminoso “comum” para cometer crimes contra a humanidade. O frio na espinha de 2016 se repetiu na última semana, quando o Brasil assistiu a nossos irmãos do Amazonas morrerem sem conseguir respirar em suas casas e pelos corredores dos hospitais de Manaus.
Não proponho uma análise do passado. Deixemos isso para outra hora – e ela chegará.
Agora, declaro que, independentemente das escolhas já feitas, eu me coloco à disposição para dialogar com qualquer cidadão e cidadã que queira caminhar ao nosso lado na aprovação do pedido de impeachment de Bolsonaro. Alguma redenção a gente pode conseguir se o mundo assistir ao genocida ser arrancado da cadeira presidencial e, em seguida, ser julgado pelos tribunais brasileiros e internacionais pelos seus inúmeros crimes.
Precisamos salvar vidas, unir o nosso povo e expulsar o ódio das nossas casas.
Por isso se faz urgente que entendamos: ou o Brasil para Bolsonaro, ou Bolsonaro acaba com o Brasil.
*Antonio Neto é presidente municipal do PDT em São Paulo, presidente da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros) e presidente do Sindpd (Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo). Foi candidato a vice-prefeito de São Paulo na chapa de Márcio França (PSB).
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.