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Por Enio Verri*
O dia 1º de Maio marca a luta internacional da classe trabalhadora. Aquela que produz a riqueza das nações, cujo acesso é limitado por um sistema parasitário, chamado capitalismo, dentro o qual a exploração e desvalorização da força de trabalho são parte do lucro dos donos dos meios de produção. Esses concentram capital, poder e controlam as horas dos trabalhadores, os transformando em reprodutores autômatos de um sistema de consumo insaciável, que é a própria existência do capitalismo. É um dia para ser profundamente internalizado pelos trabalhadores. Dia de lembrar de todas e todos que tombaram durante o enfrentamento pelo direito de acesso aos bens produzidos, ao menos pelas mais-valias. Mas, principalmente, para consolidar na memória os avanços conquistados, ainda que seja minoria nos espaços de decisão política.
As conquistas foram possíveis porque a classe trabalhadora se organizou e se fortaleceu. Para chegar a essas condições, ela teve de se conscientizar como tal. Nesse sentido, Karl Marx é o nome que pode representar o arcabouço teórico da compreensão da exploração do trabalho, pelo capital, bem como a clara descrição do espaço de pertencimento dos trabalhadores, num universo onde percebem os mecanismos de exploração a que estão diariamente submetidos. Ao longo de séculos, sempre foi uma guerra sem fim, cujas conjunturas políticas de cada época e o nível de conscientização dos trabalhadores de cada país são as condições nas quais se dão as batalhas, favoráveis ou não à classe trabalhadora. A única certeza que ela pode ter é que a classe dominante fará de tudo para nunca deixar de explorá-la.
No Brasil, em especial, grande parte da classe trabalhadora não tem, ainda, a consciência de si. Os trabalhadores, individualmente, sabem que o são, mas não se reconhecem como classe que tem a mão de obra explorada, seja ela a de um pedreiro, de uma lavadeira, de um jornalista ou de um médico. Porém, sempre há diferentes graus de conscientização, com o MST e o MTST, por exemplo. De um modo geral, a classe trabalhadora está desorganizada. Quando muito, alguns setores lutam para resguardar alguns poucos direitos desde a Reforma Trabalhista de Michel Temer. Porém, a grande luta, a que demanda mudar as estruturas de concentração de renda e de poder, passa ao largo da percepção da maioria dos trabalhadores braçais e não encontra coesão e força entre os vários níveis de identificação ideológica que a força de trabalho intelectual tem com a questão.
O momento pelo qual passa o mundo e o Brasil é um divisor de águas na luta entre o capital e o trabalho. Certa imprensa cumpre o seu papel de voz do dono e tenta esconder que a pandemia do coronavírus deixará clara para a história da formação política dos trabalhadores a total dependência que o capital tem da força de trabalho. Sem gente, sem produção. Essa conscientização é o caminho pelo qual a classe trabalhadora conseguirá acabar com todas as explorações pretendidas e embutidas em projetos de lei elaborados por parlamentares a serviço do capital. É um objetivo ambicioso, visto que a histórica despolitização da classe trabalhadora, infelizmente, não permite sua organização.
O Brasil é um país a quem a classe dominante quer manter eternamente como uma colônia, seja de quem for. Não interessa, desde que ela não tenha que trabalhar. A confiança da elite na aprovação das reformas trabalhistas, da Previdência e para favorecer o sistema financeiro está calcada num longo trabalho de 400 anos, numa cruel escravidão – ainda por se extinguir – e pela consequente marginalização de acesso dos pobres aos bancos escolares. A selvagem classe dominante brasileira se submeterá a um processo civilizatório de acesso justo às riquezas e aos espaços de decisão política, somente quando a classe trabalhadora se conscientizar de quem ela é e do seu papel histórico de personagem produtor das riquezas e de resistência à exploração. Viva os trabalhadores.
*Enio Verri (PR) é deputado federal, líder do PT na Câmara e professor licenciado do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum.