Por Carol Proner *
De um lado, o flerte com a morte. De outro, a morte.
De um lado, o desdém, a zombaria, a incredulidade. De outro, a ciência, a razão, a consequência, a morte.
De um lado, a aliança com o agronegócio e a festa dos venenos proibidos. De outro, a morte lenta pelo envenenamento cotidiano à mesa.
De um lado, as armas, a força, a misoginia estrutural. De outro, o assassinato racista, a morte a facadas.
De um lado a destruição do status dos povos e da natureza. De outro, o fim dos tempos, das culturas, da floresta.
De um lado, o escárnio, o riso macabro com as marcas da tortura. De outro, a resistência. A resistência à tortura e a superação da morte. Dilma.
Essa mulher é o símbolo do que devemos ter em mente para 2021 e para o futuro do país.
Perguntemo-nos. Por que Jair Bolsonaro ataca Dilma Rousseff neste finzinho de 2020?
Dilma é o símbolo da retidão de caráter, da honestidade e da resistência.
Sofreu as sevícias mais cruéis na ditadura militar, isso todos sabem. O que espanta, ainda espanta apesar dos dois anos de um governo explicitamente fascista, é que tanta gente o siga apoiando.
Passa da hora de tomarmos a sério o que aconteceu com Dilma Rousseff.
Ela também é o símbolo máximo do Golpe de 2016 que vitimou a democracia no Brasil.
É o símbolo do uso do lawfare contra o país, mesmo antes de Lula, pela movimentação de agentes infiltrados na nossa economia, pela espionagem da Petrobras, pelo Pré-Sal, que hoje está em mãos estrangeiras.
É o símbolo digno e inflexível contra o lavajatismo e tudo o que representa o grande traidor nacional, Sérgio Moro.
E agora é o contraponto ao bolsonarismo. Simbólico e de gênero. O que acontece com Dilma, acontece com o Brasil.
Dilma, com elegância altiva de uma mulher que sofreu misoginia mesmo entre pares num mundo dominado pela cultura patriarcal, permanece como um acervo moral e ético de nossa possibilidade perdida como Nação. E é a ela que quero dedicar este último comentário de 2020, em homenagem ao que o Brasil poderia ter sido.
*Carol Proner é professora de Direito Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD).