CULTURA

Mazzaropi: o maior caipira do cinema brasileiro era gay?

Em um contexto profundamente conservador e homofóbico nos anos 1950, ícone do cinema brasileiro viveu discretamente aspectos de sua vida pessoal que só recentemente começaram a ser revelados

Créditos: Wikimedia Commons
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Nascido em São Paulo e criado em Taubaté, Amácio Mazzaropi revelou desde cedo um talento natural para entreter. Ainda nos tempos de escola, já chamava a atenção ao declamar poesias e contar causos que arrancavam risadas dos colegas.

Durante a década de 1930, fundou sua própria companhia de teatro, levando espetáculos a várias cidades do interior paulista.

Em 1946, estreou no rádio com o programa Rancho Alegre, transmitido ao vivo pela Rádio Tupi. O sucesso foi tanto que, quatro anos depois, a atração migrou para a TV Tupi, marcando a estreia de Mazzaropi na televisão.

Consagração no cinema:

Em 1952, Mazzaropi protagonizou Sai da Frente, lançado pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz, num período em que o acesso à televisão ainda era restrito. Os cinemas, por sua vez, espalhados até pelas pequenas cidades, ampliaram seu alcance popular.

Depois de atuar em sete filmes, tomou uma decisão ousada: vendeu sua casa e investiu o dinheiro na criação da PAM Filmes — Produções Amácio Mazzaropi. Com ela, passou a comandar todas as etapas de seus projetos, do roteiro à distribuição. Essa independência foi crucial para romper com a dominação das distribuidoras estrangeiras no mercado brasileiro, especialmente as norte-americanas.

Vida pessoal e sexualidade:

Apesar da fama, Mazzaropi sempre manteve sua vida pessoal longe dos holofotes. Nunca se casou oficialmente e nem teve filhos biológicos, o que gerava especulações. Amigos o descreviam como reservado e, em muitos momentos, solitário, embora leal a um pequeno círculo de afetos. A discrição alimentava boatos, inclusive sobre sua sexualidade, em um Brasil profundamente conservador e homofóbico nos anos 1950 e 1960.

No entanto, o documentário Mazzaropi, lançado em 2013 por Celso Sabadin, trouxe à tona um aspecto até então pouco conhecido: o artista, embora reservado publicamente, era abertamente gay entre amigos e funcionários. O filme revela que ele sofreu preconceito até mesmo entre colegas do meio artístico e teve relacionamentos com atores que ajudou a lançar.

Em entrevista ao UOL, o ator David Cardoso, símbolo da pornochanchada brasileira, também relembrou episódios inusitados com bom humor: "Pedi um papel de galã num filme dele e ele respondeu: 'Você não é galã porque não quer. É só dormir comigo que vira galã da noite pro dia'", contou.

Mesmo polêmico, o episódio reforça o misto de irreverência e segredo que cercavam a figura de Mazzaropi — um gênio da comédia popular que, até hoje, continua arrancando sorrisos e despertando curiosidade.

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