Arendt não via a esperança como virtude. Ao longo de sua vida e obra, tratou o sentimento mais como uma armadilha: algo que nos distrai do presente e enfraquece nossa capacidade de agir. Já nos anos 1930, alertava sobre os perigos do nazismo enquanto muitos ainda esperavam que a situação se resolvesse. E depois da guerra, insistiu que a esperança pode ser perigosa quando usada como desculpa para inação.
Em seus textos, Arendt mostra que regimes totalitários, como o nazista, sabiam disso. Nos campos de concentração, os nazistas usavam a esperança para manter os prisioneiros obedientes. Alimentavam ilusões de sobrevivência até o último momento. A filósofa citava o escritor Tadeusz Borowski, sobrevivente de Auschwitz, que escreveu: “Nunca nos ensinaram a desistir da esperança, e é por isso que hoje perecemos em câmaras de gás.” Arendt via nessa frase a prova de que a esperança pode destruir mais do que salvar.
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Ela também analisou como o medo e a esperança paralisaram os judeus no gueto de Varsóvia. Muitos não resistiram às deportações porque acreditavam que talvez nada de pior acontecesse. Era uma esperança “febril”, que impedia a ação. A resistência só começou quando esse sentimento foi abandonado.
Mas Arendt não era pessimista. Ela só trocava a esperança por algo que julgava mais real e poderoso: a natalidade. Para ela, todo nascimento representa a possibilidade de um novo começo. Não é uma ideia religiosa nem abstrata. É o simples fato de que cada pessoa, por existir, pode mudar o rumo das coisas. A natalidade, dizia, está ligada à ação – à capacidade de transformar a realidade, aqui e agora.
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Esse conceito virou uma das bases do pensamento político de Arendt. Em vez de esperar por milagres, ela acreditava no valor dos atos humanos, por menores que fossem. Enquanto a esperança nos projeta para um futuro ideal, a natalidade nos chama para o presente e nos lembra que sempre é possível recomeçar.
Sua própria vida foi prova disso. Após escapar da prisão na Alemanha, atravessar a França com documentos falsos e fugir da Europa com a ajuda de Varian Fry, Arendt chegou aos EUA em 1941, aos 34 anos, com pouco dinheiro e nenhum inglês. Não esperou que as coisas melhorassem. Agiu.