LINGUAGEM

É possível esquecer a própria língua nativa? A ciência explica

Fenômeno conhecido como "atrito linguístico" explica como o desuso da língua materna pode afetar vocabulário e fluência

Créditos: IA.
Escrito en CULTURA el

A língua materna, geralmente a primeira que aprendemos, está profundamente ligada à identidade e aos vínculos culturais e familiares. No entanto, especialistas apontam que é possível perder parte da fluência nesse idioma ao longo do tempo, especialmente se ele deixar de ser usado com frequência.

O fenômeno é chamado de “atrito da língua nativa”. Ele ocorre quando a pessoa passa a viver em um ambiente onde se fala outra língua e, aos poucos, reduz seu domínio sobre o idioma original. Crianças pequenas são especialmente vulneráveis. Um estudo de 2003 publicado na revista Cerebral Cortex revelou que coreanas adotadas por famílias francesas entre os 3 e 8 anos perderam totalmente a compreensão do coreano até a vida adulta.

Já adultos e adolescentes tendem a manter a base da língua materna. Segundo Laura Dominguez, linguista da Universidade de Southampton, a estrutura gramatical é menos afetada pelo tempo. Um estudo de 2023 mostrou que hispânicos vivendo há 15 anos no Reino Unido mantêm o uso correto do presente do indicativo em espanhol, mesmo expostos diariamente ao inglês.

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Por outro lado, o vocabulário costuma ser a parte mais frágil. Dominguez explica que, após um período imerso em outro idioma, é comum demorar para lembrar certas palavras da língua nativa. Isso não significa esquecimento definitivo, mas uma dificuldade temporária de acesso à memória.

O mesmo vale para quem tenta retomar uma segunda língua após anos sem contato. “O cérebro lembra mais do que imaginamos”, afirma Antonella Sorace, da Universidade de Edimburgo.

Em casos de demência, o processo pode ser o inverso: pessoas bilíngues tendem a abandonar a segunda língua e voltar a usar apenas a materna — o que é conhecido como “reversão linguística”.

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