CAETANO VELOSO

O disco de Caetano Veloso que foi um fracasso de vendas e recorde de devoluções

Álbum que teve quase 13 mil cópias devolvidas nas lojas foi definido por Dona Canô assim: “todas as maluquices de seu Caetano estavam ali”

A capa de Araça Azul de Caetano Veloso.Créditos: Ivan Cardoso/Divulgação
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Em 1973, logo após voltar do exílio em Londres, Caetano Veloso lançou um dos discos mais ousados e controversos da música brasileira. “Araçá Azul”, que hoje é cultuado por críticos e estudiosos pela ousadia artística, foi rejeitado na época pelo público e até mesmo pelo próprio autor.

O disco foi uma ruptura inesperada para quem celebrava o sucesso de Transa (1972). Caetano morava em Salvador e vivia uma fase de reencontro com o Brasil, depois de anos turbulentos marcados pela repressão e a distância do país.

Um passo além da Tropicália

Com influências que iam do samba de roda do Recôncavo Baiano às experiências da poesia concreta, “Araçá Azul” explodiu convenções. O álbum foi construído como um mosaico sonoro: misturava canto e fala, grunhidos, ruídos urbanos gravados na Avenida São Luís (SP), distorções e trechos quase inaudíveis. Na faixa Épico, Caetano resumia sua intenção:

Tenho direito ao avesso / Botei todos os fracassos / Nas paradas de sucessos.”

O título do álbum veio de um sonho simbólico: Caetano sonhou que subia num araçazeiro na casa de sua mãe, em Santo Amaro, com sua irmã Bethânia. Ao tentar colher um fruto azul – inexistente na realidade – Bethânia ameaçava se jogar. A cena onírica foi eternizada na capa do disco, com Caetano de sunga vermelha diante de um espelho, em uma imagem andrógina fotografada por Ivan Cardoso.

Rejeição e mística do fracasso

Lançado pela Phonogram/Philips, com produção autorizada por André Midani, o disco sofreu uma avalanche de devoluções. O número beirou as 13 mil cópias devolvidas, de um total de 42 mil unidades distribuídas, segundo registros. Para muitos lojistas e consumidores, o disco parecia defeituoso — tal a estranheza de sua sonoridade.

O tempo como curador

Hoje, Araçá Azul é revisitado como uma obra visionária. Uma provocação que não buscava agradar, mas incomodar. Uma peça de vanguarda que desafiou o mercado, os fãs e o próprio artista.
Um disco, como dizia o encarte original, “para entendidos”.

E como definiu dona Canô, mãe de Caetano, ao ouvir o álbum pela primeira vez:

“Todas as maluquices de seu Caetano estavam ali.”

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