Todo mundo da turma recebeu a notícia assim, cheio de interrogações e exclamações diante daquela frase que nunca esperávamos escutar:
— Sabe quem vai se casar? A Mônica.
A Mônica Andrada Figueiredo Rego Borges... e mais tantos sobrenomes quanto os apaixonados por ela por toda uma vida?! Não era possível!
Filha de uma família que foi riquíssima, tradicionalíssima, até a chegada dela... Porque a Mônica (a Monicaça, como a chamamos) sempre foi, como dizíamos, do balaco.
Com a Mônica não tinha tempo ruim, festa bosta, viagem roubada. Onde ela estava, chegava a alegria e se instalava. Porque ela é a própria alegria em pessoa, o gosto de viver, a gargalhada, o banho de cachoeira, o mergulho na praia, o acampamento grupal ou ou aconchego de uma pousada, fumando um com a Monicaça na rede...
Ela havia namorado todos da turma. Ainda que alguns só em pensamento. Mas ela era o bastião que nos unia, adolescentes tardios, todos com quase 30 anos, ninguém casado.
À espera da decisão da Mônica? Quem sabe. Não duvido.
Por isso o espanto foi geral com a notícia. Ninguém parecia acreditar. Ou melhor, parece que ninguém queria acreditar, porque aí seria o final da esperança de ficar com ela. Ou melhor, viver para sempre a eterna juventude de pertencer à Turma da Monicaça, como nos chamávamos os apaixonados por nossa musa.
Mas a realidade estava ali, estampada no convite para a despedida de solteira da Monicaça, com toda a turma convidada, marcada para aquele imenso e já inesquecível apartamento de frente para o mar do Arpoador, na esquina esquerda da praia de Ipanema.
No dia da festa — não havia como negar — estávamos todos tensos, mas esperançosos de que tudo não passasse de mais uma zoada da Monicaça, que ela nos iria surpreender com uma declaração de que era tudo apenas motivo para nos encontrarmos mais uma vez — como se alguma vez precisássemos de qualquer outro motivo que não fosse o simples convite dela.
No entanto, com o andar da festa, parecia que nossas piores expectativas se confirmavam. Todos os presentes afirmavam que ela não estava brincando. Havia conversado com alguns e algumas e confessado que havia decidido dar um novo rumo, "tomar jeito" — chegou a dizer.
— Só se "jeito" for um novo drink que ela inventou — zombou Rick. Quero ver ela resistir ao — e valorizou — Paolo...
— Que catzo é Paolo?! — todos quisemos saber.
Rick explicou que Paolo era um modelo italiano belíssimo, que estava no Rio fazendo campanha da Ray-Ban, que ele havia convocado para a festa.
— Paolo está apaixonado pelo Rio e ficou louco para conhecer a Monicaça, quando falei dela para ele. Não disse que era a despedida de solteiro dela. E o cara vem para conhecê-la.
Havia uma esperança. Pelo menos foi isso o que Rick plantou na nossa cabeça. E que se confirmou quando Paolo chegou à festa. O cara era simplesmente lindo, aquele tipo galã italiano, alto, moreno atlético, modelo de campanha mundial de óculos esportivos.
Mas quando ele foi apresentado à Monicaça, a reação dela foi a comum, que dispensava a todos, conhecidos ou não: dois beijinhos e os votos de que aproveitasse a festa.
Rick ainda fez questão de dar a ficha completa do Paolo, mas ela não pareceu mais interessada do que o habitual.
A festa estava bombando. Tinha de tudo: de bebidas alcoólicas a outras drogas. Mas faltava o noivo. Até que ele apareceu.
Todos queríamos saber quem havia sido o escolhido.
Espanto geral, porque era um sujeito absolutamente normal, com jeito de diretor de banco, de terno, nem feio nem bonito. Aquilo abriu uma brecha de esperança: afinal, Monicaça não iria trocar nossos anos de loucura, de juventude, por "aquilo", o mais do mesmo, o rame-rame do dia a dia...
Menos tendenciosas que nós os homens do grupo, as meninas acharam o cara charmoso e "interessante", essa palavra que quando dita por uma mulher guarda significados só delas.
Já de madrugada, todo mundo doidão, a triste realidade se aproximava. Todos já estávamos conformados com o casamento da Monicaça com o "semsaborzão" — para nós —, "interessante" — para elas.
Todos, menos Rick. Ninguém duvida da tenacidade e esperteza do amigo, dono de uma agência conhecido exatamente por realizar o impossível.
Houve quem protestasse:
— Mas a Monicaça não tá nem cheirando...
— Engano seu — rebateu Claudinha. Acabei de bater umas carreiras com ela lá no banheiro. Pra mim, ela não mudou nada. Continua a Monicaça de sempre.
Aquilo acendeu o ânimo da galera. Realmente nem tudo parecia perdido. O que se confirmou quando o noivo da Monicaça perguntou por ela no grupo.
— Vocês sabem da Mônica?
Todo mundo se entreolhou, sem conseguir esconder a satisfação. Não, ninguém havia visto a Monicaça nos últimos momentos. Começou uma euforia, assim que o noivo virou as costas e continuou sua procura.
Foi quando alguém perguntou:
— E o Paolo?
Também havia sumido.
Os demais convidados não entenderam nada, quando pegamos Rick e o jogamos para o alto, uma, duas, várias vezes.
A festa ainda rolava, animada como sempre, para a Turma. O dia nasceu e Monicaça não havia voltado. Nem Paolo.
O noivo, que havia perdido a esperança — e a gravata — estava sendo devidamente macetado por uma das meninas que o acharam "interessante".
Agora ele já é considerado um novo sócio da Turma da Monicaça.
Esta é a primeira crônica do ano de Antonio Mello, publicada no Blog do Mello e na Revista Fórum. O autor tem 5 livros publicados, o mais recente um livro de crônicas e contos curtos, lançado em dezembro passado, chamado "O Amor Tem Dessas Coisas, E Outras", que pode ser adquirido na versão impressa neste link, ou na versão e-book na Amazon.