RACISMO

Racismo reverso existe? Veja como este comediante destruiu o conceito com uma simples piada

Pessoas brancas afirmam sofrer 'racismo reverso' quando são alvos de piadas a respeito de sua alocação social baseada em privilégios de cor, mas o australiano de ascendência bangalesa Aamer Rahman destruiu esse conceito de forma perspicaz; assista ao vídeo

Aamer Rahman.Créditos: free source
Escrito en CULTURA el

O conceito de "racismo reverso" é frequentemente invocado por pessoas que não são vítimas de preconceito estrutural — práticas discriminatórias, como o racismo, cujas raízes sociais estão ligadas a eventos históricos que definiram episódios de opressão persistentes, baseados na cor da pele, na origem étnica ou nacional e na visão coletiva de um povo ou classe como inferior — para se opor a piadas ácidas que ridicularizam sua posição de privilégio.

Pessoas brancas, em grande parte das vezes, afirmam sofrer 'racismo reverso' quando são alvos de piadas a respeito de sua alocação social baseada em privilégios cor, especialmente em países como os Estados Unidos, em que as divisões raciais são mais evidentes. O termo "white people problems" (os problemas de pessoas brancas, em tradução livre) foi popularizado no país ao longo dos anos 2000 como uma espécie de meme que ironiza a menor gravidade de problemas específicos desse grupo em relação àqueles de pessoas racializadas, como é o caso de negros, latinos e asiáticos.

Durante uma sessão de stand-up comedy em 2014, o comediante Aamer Rahman, australiano de ascendência bengalesa e parte do grupo de comédia "Fear of a Brown Planet" (em tradução livre, medo de um planeta marrom, isto é, de um planeta povoado com imigrantes não-brancos), abordou a ideia de racismo reverso de uma maneira cômica e, com um pouco de cinismo, destruiu o conceito de um suposto "racismo ao contrário" — que significa, na prática, um racismo contra pessoas brancas

De acordo com o The Guardian, Rahman estava prestes a desistir da carreira de comediante e do duo Fear of a Brown Planet, de que fazia parte junto a Nazeem Hussain, seu amigo e parceiro de trabalho, quando fez uma rotina inusitada em um de seus shows, e ela logo viralizou mundialmente. 

A piada surgiu de forma espontânea, quando Rahman pôs em pauta um "comentário que sempre faziam para ele", conhecido por suas piadas ácidas contra "pessoas brancas": "As pessoas dizem: 'Ei, Aamer, você sobe no palco e faz piadas sobre pessoas brancas. Você não acha que isso é um tipo de racismo? Você não acha que isso é... racismo reverso?'" 

A piada que se segue é mais inspiradora do que engraçada, quando o comediante explica, de forma cômica e incisiva, por que não é possível pensar em racismo reverso na sociedade atual.

Para existir racismo reverso, explica Rahman, primeiro nós teríamos que "construir uma máquina do tempo" e praticar uma inversão de papeis: e se a África, a Ásia e a América Latina tivessem colonizado a Europa?

Se fosse criado um sistema que "escravizasse europeus" para extrair seu trabalho, colonizasse e se aproveitasse dessa parte do mundo por um longo período de tempo, de forma que seus descendentes tivessem de emigrar para o local de origem de pessoas negras ou marrons e não o contrário; e se fossem erguidos sistemas que privilegiassem pessoas negras enquanto, de maneira intermitente, se lançassem bombas aos países das pessoas brancas com a justificativa de que "é para o seu próprio bem", porque "sua cultura é inferior" — aí, então, seria possível falar de racismo contra pessoas brancas.

Numa sociedade em que o fenótipo define privilégios, piadas ácidas que ridicularizam características sociais de uma raça que se impôs sobre as demais — e que continua a se aproveitar dos benefícios trazidos por sua posição de poder — não podem ser equiparadas à discriminação racista de viés estrutural: é o que o set de Rahman pretende provar, com uma pitada de sarcasmo.

 

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