Com mais de um milhão de visualizações até a noite desta segunda-feira (27), o irônico musical intitulado Johanne Sacrebleu tem sido encarado como uma resposta dos mexicanos ao que muitos no país consideram ser uma visão eurocêntrica do filme francês Emilia Pérez, que recebeu o maior número de indicações ao Oscar em 2025.
Dirigido por Jacques Audiard, a obra estrelada pela atriz trans espanhola Karla Sofía Gascón tem sofrido diversas críticas por parte dos mexicanos. Embora a história se passe no México, ela foi filmada na França e com somente uma atriz do país americano como protagonista.
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Audiard também é questionado ainda por abordar temas como tráfico de drogas e violência no México sem um conhecimento profundo das realidades locais e sem a sensibilidade devida.
O roteirista mexicano Héctor Guillén traduziu este sentimento ao marcar a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo Oscar, no dia seguinte ao Globo de Ouro publicou no X uma imagem com os dizeres: "O México odeia Emilia Pérez/ "Zombaria eurocêntrica racista"/ Quase 500 mil mortos e a França decide fazer um musical". A publicação tinha, até esta segunda, 2,7 milhões de visualizações e 131 mil curtidas.
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A história de Johanne Sacrebleu
A criadora de conteúdo trans Camila Aurora, junto com Héctor Guillén, realizou Johanne Sacrebleu, um curta-metragem sobre a França feito no México e estrelado apenas por artistas mexicanos.
Trata-se da história de uma mulher trans, herdeira do maior produtor de baguetes da França, que se apaixona por Agtugo Ratatouille, o herdeiro trans da maior empresa de croissants do país.
As falas irônicas remetem ao uso de esteriótipos e simplificações que os realizadores consideram existir em Emilia Pérez. “Como veterinário que já tratou um poodle francês, sinto-me qualificado para dizer que isso é arte” e “Sou dominicano e como o meu país faz fronteira com o Haiti, que foi colonizado pelos franceses, posso dizer que isto representa perfeitamente a cultura francesa” são algumas das frases satíricas retiradas de diálogos do curta-metragem.
"Tentei copiar o jeito de Hollywood de promover filmes [para premiações], sabe, quando eles basicamente dizem, 'filme incrível'", conta Guillén ao site BBC. "Eu queria fazer uma contrapartida disso, queria ter outra visão do que Emilia Pérez é para muitos de nós, mexicanos."
"Não pesquisaram nada"
Uma das controvérsias sobre o filme francês é o fato de ser um musical tratando de um sério problema do México, o tráfico de drogas. Segundo dados do governo do país, 121 mil pessoas desapareceram em função da disputa entre cartéis.
Artemisa Belmonte é uma das inúmeras pessoas que buscam por seus desaparecidos. No caso dela, a mãe e três tios desapareceram no estado de Chihuahua, no norte do país, em 2011. Ela promoveu uma petição no Change.org pedindo que o filme não fosse lançado no país e que não recebesse prêmios.
“Não dá para falar do assunto como se fosse algo para fazer um musical”, disse ela à Associated Press. “Evidentemente eles não pesquisaram nada, não sentaram com uma pessoa que teve um familiar desaparecido."