AMEAÇA À DEMOCRACIA

Escritora Paulina Chiziane é agredida por fundamentalistas; Mia Couto pede "medidas severas"

A autora moçambicana foi alvo de ataque de membros da igreja evangélica "Divina Esperança"

Escritora Paulina Chiziane é agredida por fundamentalistas; Mia Couto pede "medidas severas".Créditos: Reprodução redes sociais / Youtube/ TV Senado
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A escritora moçambicana Paulina Chiziane foi agredida no último domingo (28) por membros da igreja evangélica "Divina Esperança" enquanto realizava uma gravação para seu novo videoclipe. À Lusa, Chiziane relatou que ela e os membros de sua equipe foram alvo de agressões físicas por parte de seguranças da igreja a mando do pastor, que a acusa de "bruxaria".

"Estou processando um pastor, aquele que ordenou a agressão contra mim e contra os meninos. Estou, sim, processando o pastor chefe e o segurança dele. Eles [da igreja Divina Esperança] dizem que podem ajudar a pagar as despesas de saúde, mas um dos nossos membros foi pisado com botas e não consegue respirar bem. Eu não sei se ele tem fraturas ou não, mas ele não está bem", declarou à Lusa Paulina Chiziane.

Além disso, Paulina Chiziane revelou que, além das agressões físicas, foi acusada pelos membros da igreja de "bruxaria" porque no carro em que estavam havia uma Timbila. Na visão dos fundamentalistas, tratava-se de um instrumento para "praticar magia", porém, é um instrumento musical tradicional que foi classificado como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco em 2008.

Mia Couto pede "medidas severas"

O também escritor moçambicano Mia Couto se revoltou ao tomar conhecimento das agressões sofridas por Paulina Chiziane e sua equipe e pediu que o governo de Moçambique tome "medidas severas" contra os envolvidos.

"É inaceitável a agressão física, verbal e psicológica cometida contra a escritora Paulina Chiziane e os artistas que a acompanhavam. Medidas severas devem ser tomadas contra os agressores. Sejam quem forem, seja qual for o pretexto dessa violência", declarou Mia Couto.

Paulina Chiziane é uma das principais escritoras da lusofonia e em 2021 recebeu o Prêmio Camões, o mais importante na língua portuguesa. Nos últimos anos, a escritora tem sido crítica em relação ao avanço do fundamentalismo no continente africano, especialmente através das igrejas evangélicas que chegam a partir do Brasil e de outras regiões do mundo. Um de seus livros mais recentes, "Ngoma Yethu - O Curandeiro e o Novo Testamento" (Ed. Nandyala), é justamente uma crítica a esse cenário.