ZEZÉ MOTTA

Zezé Motta em carta à Iza manifesta “dororidade” e expõe a solidão da mulher negra

Atriz e cantora que acaba de completar 80 anos joga nas redes uma linda carta em homenagem à amiga, que está grávida e foi traída pelo marido

Zezé Motta e Iza.Créditos: Instagram
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Zezé Motta, que acaba de completar 80 anos, publicou nas redes uma carta/mensagem à colega, a também cantora Iza. No texto, em que se solidariza com a dor da amiga que, grávida, foi traída pelo marido, Zezé faz uma bela e sofrida reflexão sobre a solidão da mulher negra.

Zezé ressalta que “mesmo que IZA seja ‘Dona de Si’ – maravilhosa, potente, empoderada – ela, assim como tantas outras, sofre com o abandono no relacionamento”. Ela ainda afirma que “questiona, sim, a humanidade do homem ou do parceiro que não percebe o mal que está causando ao outro”.

Dororidade

Entre as várias reflexões intensas, Zezé Motta ainda destaca o termo “dororidade”, segundo ela um “conceito criado por Vilma Piedade” que significa a “solidariedade entre mulheres negras que compartilham dores semelhantes”. E explica: “é um termo que une as palavras ‘dor’ e ‘sororidade’, “evidenciando que a união e o apoio entre mulheres negras são fundamentais para enfrentar as adversidades e ressignificar suas experiências”.

Leia abaixo a carta completa:

Carta Aberta para “Dona de Mim”.

 A solidão da mulher negra é presente, é agora. Esta noite, assisti a um vídeo de desabafo do nosso Talismã, IZA. Confesso que minha voz embargou, porque, no pesar de uma mulher tão potente, por quem tenho tanta admiração, vejo uma mulher, uma mãe que se prepara para gerar o fruto de um amor, uma boa nova, um novo começo. A maternidade para a mulher é uma plenitude, talvez o momento em que nos sentimos mais completas e, ao mesmo tempo, repletas de dúvidas e anseios.

Nessa enxurrada de emoções e hormônios, nosso Talismã precisou vir a público para falar abertamente sobre sua dor e vulnerabilidade, para que outros não tirassem dela o direito de narrar sua própria experiência. A traição e o abandono são cruéis; eles nos silenciam e fazem doer a alma e o coração. Ressignificar a solidão da mulher negra vai além das vivências nas relações amorosas; é sobre uma vivência de exclusão em uma sociedade que insiste em ser machista, patriarcal e escravocrata.

Aqui, é importante destacar a “Dororidade”, um conceito criado por Vilma Piedade. Dororidade é a solidariedade entre mulheres negras que compartilham dores semelhantes. É um termo que une as palavras “dor” e “sororidade”, evidenciando que a união e o apoio entre mulheres negras são fundamentais para enfrentar as adversidades e ressignificar suas experiências. É através da dororidade que encontramos força e coragem para seguir em frente, sabendo que não estamos sozinhas em nossas lutas.

Mesmo que IZA seja “Dona de Si” – maravilhosa, potente, empoderada – ela, assim como tantas outras, sofre com o abandono no relacionamento. Eu questiono, sim, a humanidade do homem ou do parceiro que não percebe o mal que está causando ao outro. O mais digno, quando o amor acaba, é seguir respeitando a parceria criada. Não se pode passar pano e suportar o insuportável. Mulheres, continuem olhando para dentro de si. É uma tarefa terrível, pelo medo que se encontra na própria companhia, mas é necessário refletir e superar.

Meu Talismã, desejo muitas bênçãos e amor para você e sua Rainha Nala, que vem representar a dádiva de novos dias. Sei que sua fé ainda vai te guiar para mares calmos, pois DEUS TE FEZ ASSIM, DONA DE SI!