A escritora Eliane Marques, premiada com o troféu Alcides Maya na categoria Narrativa Longa pelo livro "Louças de família", não se conteve na última quinta-feira (12). Ela reagiu duramente durante a cerimônia de entrega do Prêmio da Academia Rio-Grandense de Letras (ARL), em Porto Alegre, ao discurso do presidente da instituição, Airton Ortiz.
Ele atribuiu o pioneirismo cultural do Rio Grande do Sul à imigração alemã e italiana, chegando a sugerir que o restante do país teria sido predominantemente "colonizado" por pessoas negras escravizadas.
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"Não é mais possível, senhor presidente, acadêmicos, acadêmicas, que ouçamos em silêncio afirmações como essa, de que o Rio Grande do Sul é então pioneiro nas suas academias de letras em razão da imigração alemã, da imigração italiana, e que o restante do país não teria seguido esse pioneirismo em razão da sua predominância escrava, quer dizer, negra" , afirmou a escritora, causando constrangimento.
Eliane ainda postou em suas redes sociais uma nota sobre o episódio:
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"Com o peso de seus fardões e de sua importância, acadêmicos e acadêmicas permaneceram brancamente imantados em suas cadeiras, calados, recebendo elogios e tapinhas nas costas", disse.
Retratação
Ortiz, por sua vez, publicou nesta sexta-feira (13), uma nota de retratação reconhecendo que sua fala teve "cunho racista" e que o discurso improvisado resultou em uma "conotação distorcida" do que ele pretendia dizer.
"Ao fazer um histórico do surgimento precoce das instituições culturais no Rio Grande do Sul, falei que isso em muito se devia aos imigrantes alemães e italianos, pois eles tinham liberdade para se reunirem em associações, publicarem seus jornais e praticarem suas culturas. Enquanto isso, nas regiões colonizadas por escravos, infelizmente eles não tiveram liberdade para esse tipo de atividade. Por culpa, obviamente, de quem os escravizava", justificou Ortiz.