“Miúcha, a Voz da Bossa Nova” será exibido no renomado festival “Música nas Américas”, realizado pela Universidade Sorbonne, em Paris. Único filme brasileiro selecionado para o evento, a obra, dirigida por Liliane Mutti e Daniel Zarvos, destaca a trajetória íntima e a carreira de Miúcha, uma das figuras mais emblemáticas da Bossa Nova. A sessão acontece neste sábado (9), às 20h30, no cinema L'Écran de Saint-Denis, e promete levar ao público uma visão inédita sobre a cantora, revelando nuances do feminino na música brasileira.
Cartas, diários, filmes em Super 8, fitas cassete, aquarelas pintadas pela própria Miúcha, fotos e vídeos inéditos compõem um acervo expressivo que conta, de forma singular, a história nunca antes revelada da cantora e do feminino na Bossa Nova, muitas vezes ofuscados por sua proximidade com figuras como Vinicius de Moraes, Tom Jobim e João Gilberto.
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A diretora Liliane Mutti ressaltou o desafio em reconstituir a trajetória de Miúcha, devido à ausência de registros próprios que retratem seu protagonismo. “A nossa música tem sido um forte ponto de atração para os nossos cinemas. Isso mostra a potência e a transversalidade da cultura brasileira para o mundo. Fico imensamente feliz de ver Miúcha sendo vista por públicos de mais de 40 países, onde o filme já circulou”.
O ator Paulo Betti, ao assistir à obra, compartilhou sua emoção em suas redes sociais: “Estou absolutamente trespassado pela delicadeza e contundência do filme. As músicas inundam nosso coração, nos fazem chorar a ponto de não conseguirmos ver as fotos do impressionante arquivo e pesquisa! Parabéns a todos os envolvidos! O filme mais lindo que vi nos últimos tempos! Viva o cinema brasileiro!”.
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Já o curador do Festival das Américas, Alberto da Silva, afirma que “além de homenagear a grande cantora brasileira Miúcha, o documentário de Liliane Mutti e Daniel Zarvos revela a perversidade das relações desiguais de gênero, não apenas no Brasil, mas no mundo da produção musical internacional nas décadas de 1950 e 1960”.
Primeira cinebiografia sobre Miúcha, o documentário revisita sua vida entrelaçada com ícones culturais e traz também as mulheres que marcaram sua trajetória. Entre os registros resgatados estão momentos com a poeta chilena Violeta Parra, responsável por apresentar Miúcha a João Gilberto, e uma reunião com Simone de Beauvoir na casa dos Buarque de Hollanda, no Rio de Janeiro. Esses bastidores compõem uma narrativa singular sobre a cantora, que também explora sua libertação artística e emocional ao lado de Vinicius de Moraes, Stan Getz e Pablo Milanés.
“A exibição de ‘Miúcha, a Voz da Bossa Nova’ na Sorbonne celebra a memória e a obra de uma artista que reposiciona o lugar da mulher na música brasileira”, destacou Liliane, que lembra ainda que a cantora também estudou na universidade francesa, o que torna a sessão deste sábado (9) ainda mais especial.
A voz de Miúcha é entrelaçada na narrativa com leituras de suas cartas e diários, interpretadas pela atriz Sílvia Buarque, sua sobrinha, em um encontro de gerações que homenageia a artista. Em sua trajetória internacional, o filme acumula conquistas, como os prêmios de Melhor Longa de Música no Festival Internacional de Cinema Indie Lisboa e o título de Melhor Filme no In-Edit México.
Sobre o festival
O festival “Música nas Américas”, promovido pela Universidade Sorbonne em parceria com o Institut des Amériques, celebra as expressões musicais das Américas e, neste ano, foca na música como tema central. Realizado no cinema L'Écran, em Saint-Denis, o evento reúne professores, pesquisadores e profissionais de cinema para exibir documentários de curta e longa-metragem e promover reflexões sobre temas atuais por meio de apresentações e debates com os realizadores.