O filme "Ainda Estou Aqui", indicado ao Oscar como representante do Brasil para 2025, já atraiu um público superior a 1,5 milhão de pessoas, gerando uma receita de mais de R$ 30 milhões para o cinema nacional, segundo o site Filme B. A produção de Walter Salles com Fernanda Torres no elenco principal, liderou as bilheterias brasileiras na última sexta-feira (22), superando grandes produções internacionais como "Gladiador 2", “Venom 3”, da Marvel, e "Wicked".
Um levantamento realizado pela Fórum através da Lei de Acesso à Informação (LAI) com base no Sistema de Controle de Bilheteria (SBC) da Agência Nacional de Cinema (Ancine) mostra que nas duas primeiras semanas de lançamento, a produção de Walter Salles arrecadou mais do dobro de faturamento em relação às primeiras semanas de novembro de 2023.
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“Ainda Estou Aqui" foi lançado no dia 7 de novembro em todos os cinemas. Na 45ª e 46ª semana consecutiva o longa-metragem teve a presença de 1.278.662 espectadores, número superior ao longa “Mussum: O Films”, que no mesmo período obteve a presença de 79.424 espectadores.
Tanto o levantamento do Filmes B quanto o da Fórum apontam que aos poucos, o longa de Walter Salles foi superando a marca de filmes estrangeiros em público, pois nas duas primeiras semanas de novembro de 2023, eram dois filmes: “As Marvels” e “Jogos Vorazes”, que lideraram as bilheterias, somando juntos 1.401.235 espectadores.
No faturamento, “Ainda Estou Aqui” ultrapassa o longa de 2023 “As Marvels” em sucesso de bilheteria: nas duas primeiras semanas foram acumulados R$ 27,786.303 enquanto, o filme da Marvel arrecadou R$19,151.854 milhões. Este ano, ultrapassou também o filme "Venom 3 : A Ùltima Rodada", que arrceadou apenas R$ 14.155.538.
Com uma marca, o filme de Walter Salles ultrapassou 'Central do Brasil' como a maior bilheteria da carreira do cineasta. Lançado em 1998, 'Central do Brasil' havia levado 1,6 milhão de pessoas aos cinemas.
Além disso, 'Ainda Estou Aqui' está prestes a alcançar outro marco histórico: superar 'Minha irmã e eu' como o filme nacional mais visto em 2024. O longa de Susana Garcia, com seus 2,3 milhões de espectadores, havia encerrado sua temporada no topo.
Em relação aos 435 filmes que vêm sendo veiculados em salas de cinema de diferentes regiões, o filme ocupa a posição dos vinte longas mais assistidos do país.
Em primeiro lugar, consta “Divertidamente 2”, da Disney, ainda o maior sucesso de bilheteria de 2024, com um público de 22 milhões. Paradoxalmente, 2024 aparece como o ano em que mais filmes estrangeiros foram assistidos até o momento, com 90,3% das sessões, enquanto filmes brasileiros ocuparam 50,2% das sessões. O avanço de cinemas terem filmes nacionais entre os mais assistidos do ano ainda é tímido.
Um dos fatores que explica isso é a questão do cinema brasileiro ainda “viver de exceções”, como explicou o cineasta e professor do Bacharelado em Cinema e Audiovisual do Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Luís Rocha Melo em entrevista à Fórum. O sucesso pontual de filmes nacionais é uma história que se repete, uma vez que a dificuldade de reconhecimento de longas nacionais segue persistindo no país.
"Os eventuais sucessos de público chamam a atenção para a existência do cinema brasileiro, mas não resolvem o problema central, que é a existência de uma verdadeira indústria cinematográfica no Brasil, em que grandes sucessos de público possam conviver com filmes médios e com filmes experimentais e o público possa ter acesso a todos esses filmes, e não a um ou dois afortunados”, disse Rocha Melo.
O pesquisador destacou que o que fortalece o cinema nacional é justamente a implementação de políticas que valorizem essas produções como elas devem ser valorizadas.
“É o enfrentamento pelos espaços nas plataformas, nas televisões e nas salas de cinema, é a batalha pela visibilidade do filme nacional nos canais de streaming, é a existência de uma televisão pública realmente atuante no Brasil, é a continuidade das políticas de produção, distribuição e exibição (incluindo salas de cinema, televisão e internet), é encarar com seriedade a preservação do audiovisual”.
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Produção revolucionária
Uma das personagens que acompanha a filha de Fernanda Montenegro, Fernanda Torres (Eunice Paiva, no filme) ao longo de quase toda a história, Zezé, empregada da casa, atua como um importante braço direito de Eunice e suas filhas no regime militar. A personagem é baseada na vida real, assim como Eunice.
Dar vida a Maria José, ou Zezé, surgiu de forma completamente inesperada para a atriz juiz-forana Pri Helena. “A história me trouxe desafios que iam além da interpretação. Quando recebi o convite para o teste, foi um momento inesperado. Lembro que a produtora de elenco, Letícia Navieira, encontrou uma cena minha em uma plataforma e, do nada, recebi a mensagem para participar do teste. Eu nem sabia que estava sendo considerada!”, contou ela em entrevista à Fórum antes do lançamento do filme.
“O processo de construção foi imersivo e revolucionário. A Zezé é uma personagem que está ali, ao lado de Eunice Paiva, uma mulher que teve a vida atravessada pela ditadura assim como muitas outras. Ela é o apoio essencial para aquela família diante de todas as atrocidades que acometeram os Paivas”, ressaltou à época sobre a figura de Zezé ser um pilar na vida de Eunice. “O apoio emocional e prático que ela oferece constrói uma parceria entre essas duas mulheres, ambas enfrentando a violência da época de formas diferentes”.
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