A cantora e compositora Marina Lima só soube da opção de seu irmão, o poeta e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), Antonio Cicero, pela eutanásia na véspera do procedimento, realizado na Suíça.
O único que sabia de tudo era Marcelo Pies, marido de Cicero com quem ele mantinha um longo relacionamento desde 1984. Marina, com quem o poeta fez várias canções de sucesso, como “Fullgás” e “Á francesa”, só soube da decisão na última terça-feira (22), véspera do procedimento, segundo o próprio Pies.
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Segundo o jornal O Globo, Marina ficou sensibilizada e inconsolável quando soube, sem condições de realizar qualquer pronunciamento.
"Puramente racional"
Marcelo afirmou ao Globo que a opção pela eutanásia foi “uma decisão puramente racional”:
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“Ninguém foi consultado. Antonio não queria. Ele só avisou ontem (na terça-feira, dia 22) a irmã Marina, que ficou arrasada, mas entendeu e aceitou sua posição”, conta. Ele deixou a Suíça rumo ao Brasil nesta quinta-feira (24), com as cinzas do marido.
“Cicero era muito racional. Ele tinha urgência (em realizar o procedimento), pois temia que a doença piorasse e perdesse de repente a plena consciência, o que impediria todos os planos”, encerrou.
Antonio Cicero deixou uma carta aberta endereçada aos amigos:
Queridos amigos,
Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer. Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.
Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi. Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia. Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.
Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação. A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas — senão a coisa — mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los. Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.
Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.
Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!