PINTURA MODERNISTA

Herdeiros de Tarsila do Amaral reivindicam autoria da artista em NFTs

Autenticidade de supostos desenhos da pintora em peças que agora estão sendo comercializadas é pivô na Justiça; entenda

Tarsila do Amaral, pintora modernista brasileira.Créditos: Wikimedia Commons
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Desenhos atribuídos a Tarsila do Amaral, proeminente figura da pintura modernista no Brasil, tornaram-se objeto de um processo judicial em busca do reconhecimento de sua autenticidade após serem apresentados como autênticos em um site de venda de NFTs.

Os desenhos são objeto de uma disputa judicial liderada pelo proprietário, o tradutor Alípio Neto, que busca a certificação de autoria, segundo informações da Folha de São Paulo. Ele pede a validação da autenticidade pelos especialistas em Tarsila para inclusão das ilustrações em uma potencial nova edição do catálogo raisonné, o que seria o guia definitivo da obra da artista.

Os desenhos, datados da década de 1920, representam paisagens do litoral brasileiro. Como referência para produzir 225 NFTs de ilustrações coloridas, a empresa suíça Zeitls os utilizou e vendeu a 0,3 ETH cada, o que equivale a cerca de R$ 3.300, cada um acompanhado de um certificado de autenticidade digital. Nomeados como “Tarsila”, o comércio eletrônico obteve a aprovação de no mínimo três herdeiros da artista modernista.

Reconhecimento de autoria

Créditos: Reprodução

Este empreendimento representa um dos projetos recentes associados à obra de Tarsila, sendo supervisionado por Paola Montenegro, a sobrinha-bisneta da pintora. Entretanto, esses desenhos foram omitidos da edição anterior e não receberam aprovação unânime da comissão de especialistas encarregada de verificar a autenticidade das obras de Tarsila. Além disso, não contaram com o respaldo de Tarsilinha, a herdeira da pintora que gerenciava os direitos da artista durante a publicação do repertório.

Outro herdeiro de Tarsila, Paulo Montenegro afirma não ter a capacidade de confirmar "de forma alguma" que os desenhos são originais e que não tem domínio no tema. De acordo com informações da Folha, um documento que aborda a criação dos NFTs foi assinado por Montenegro e Luis Paulo Estanislau do Amaral, outro herdeiro de Tarsila. Nestes documentos, os desenhos são mencionados como os originais da artista.

Indagado pela mesma reportagem se isso não implicaria em admitir a autenticidade das obras, Montenegro disse que "não havia considerado por essa perspectiva", mas ao assinar o documento, afirma que "indiretamente nós, herdeiros da artista, estamos reconhecendo a autenticidade".

Tanto os NFTs quanto a autorização da família de Tarsila constituem a principal prova da autenticidade das obras, segundo o advogado de Alípio Neto, Mario Solimene Filho. Para a gerente de estratégia da Zeitls no Brasil, Daniela Zschaber, há uma total confiança na autenticidade das obras e ressalta que a missão da Zeitls é promover a arte brasileira no mundo.

Em outubro de 2023, os mesmos desenhos de Tarsila do Amaral se tornaram alvo de disputa entre o tradutor e as pesquisadoras Aracy Amaral e Regina Teixeira de Barros. Alípio buscava a certificação para comercializar as obras e liquidar as dívidas resultantes de um divórcio. Segundo o processo, a coleção de 15 desenhos em nanquim, datados dos anos 1920, seria avaliada em R$ 1 milhão.