“A gente vai ter a oportunidade de trazer para o palco a obra de um rei da música soul brasileira, um expoente da música negra no Brasil de uma relevância imensa, que desbravou um território importantíssimo”, afirmou em comunicado à imprensa o criador e idealizador do Prêmio da Música Brasileira, José Maurício Machline.
Tim Maia, um dos maiores cantores da história da música brasileira, será o homenageado principal na 31ª edição do Prêmio da Música Brasileira, que acontecerá em maio de 2024. A organização do prêmio fez o anúncio oficial nesta quinta-feira (28) na data que teria marcado o 81º aniversário do grande “Síndico”, se ele ainda estivesse entre nós.
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O rei do soul brasileiro já recebeu 13 prêmios no PMB desde a sua inauguração em 1987 até o ano de seu falecimento. No próximo ano, ele será postumamente homenageado no evento, juntando-se a um grupo exclusivo de artistas que já foram homenageados anteriormente.
Esta lista de honrados inclui grandes nomes da música brasileira como Dorival Caymmi, Luiz Gonzaga, Gilberto Gil, Elis Regina, Milton Nascimento, Rita Lee, Gal Costa, Dona Ivone Lara, Noel Rosa, Tom Jobim e Gonzaguinha.
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Trajetória e carreira
Sebastião Rodrigues Maia, nascido no bairro da Tijuca em 28 de setembro de 1942, sempre teve uma conexão inata com a arte. Desde tenra idade, aos 7 anos, já demonstrava seu talento musical compondo melodias e realizando apresentações para sua família. Aos 14 anos, sua paixão pela música o levou a formar seu primeiro grupo musical, Os Tijucanos do Ritmo. Eles se apresentavam na igreja local, marcando o início de uma jornada musical que viria a se tornar lendária.
Tim Maia, então conhecido como Tião, ganhou seus primeiros holofotes com a banda Os Sputniks, que ele formou junto com Roberto Carlos, Arlênio Lívio, Edson Trindade e Wellington Trindade. No entanto, o grupo só conseguiu sobreviver a uma única apresentação na televisão. Foi após essa breve experiência que Tião começou a ser conhecido pelo nome que o consagrou na música brasileira: Tim Maia.
Após a perda de seu pai em 1959, Tim Maia embarcou em uma jornada para os Estados Unidos, determinado a expandir seus conhecimentos sobre televisão e cinema. Ele se estabeleceu em Tarrytown, Nova York, hospedando-se com uma família amiga. Na “terra das oportunidades”, Tim deixou um pouco de lado o ritmo brasileiro e se entregou à soul music, um gênero que viria a influenciar profundamente seu estilo musical quando retornou ao Brasil.
Durante sua estadia nos Estados Unidos, Tim Maia teve que se virar com diversos trabalhos para se manter. Ele entregou pizzas, atuou como zelador e trabalhou em asilos e lanchonetes. No entanto, suas aspirações eram maiores e ele decidiu se mudar para Nova York. Apesar de ter passado apenas dois anos na cidade, foi lá que ele embarcou em uma aventura ousada e ilegal com três amigos que havia feito.
Tim Maia começou sua carreira musical trabalhando em uma produtora, onde compôs músicas para Erasmo Carlos e Roberto Carlos. Ele apreciava o trabalho, que lhe proporcionava uma exposição mais discreta.
No entanto, com o tempo, Tim decidiu que queria mais do que apenas ficar nos bastidores. Ele decidiu apostar em uma carreira solo, e essa aposta se mostrou acertada em 1970, com o lançamento de seu primeiro LP, intitulado “Tim Maia”.
O álbum foi um sucesso estrondoso, mantendo-se no topo das paradas por seis semanas consecutivas em sua terra natal. Impulsionado por esse sucesso inicial, Tim Maia lançou uma série de álbuns subsequentes: ‘Tim Maia Volume II’, ‘Tim Maia Volume III’ e ‘Tim Maia Volume IV’, consolidando seu lugar como um dos grandes nomes da música brasileira.
A fama, muitas vezes, traz à tona o lado oculto dos artistas. Com Tim Maia não foi diferente. Seus problemas pessoais começaram a ganhar destaque na mídia. Acostumado com uma vida simples, a riqueza permitiu que Tim desfrutasse de tudo o que desejava a qualquer momento. Isso levou o cantor a ganhar muito peso, chegando a pesar cerca de 150 kg em seu auge.
Ele até tentou se internar em uma clínica de reabilitação para lidar com seu problema de compulsão alimentar, mas não conseguiu permanecer por muito tempo. Os excessos se tornaram parte integrante da personalidade do cantor, que fazia referências em suas composições a muitas das coisas que consumia e animava seus shows pedindo seus “baurets”, cigarros de maconha.
Tudo isso mudou quando Tim se juntou a uma filosofia liderada por Manoel Jacintho, chamada Imunização Racional. Os membros do movimento vestiam-se apenas de branco, não comiam carne, não fumavam, não bebiam e não usavam drogas.
Após dois meses e dois álbuns icônicos gravados sob a temática do Universo em Desencanto, Tim decidiu que aquele estilo de vida não era para ele. Ele percebeu que precisava cuidar de sua saúde e decidiu se internar em clínicas que poderiam ajudá-lo. Os anos seguintes foram cruciais para sua saúde. Tim Maia faleceu em março de 1998, aos 55 anos, após ser internado por passar mal no palco.
“Eu não bebo, não cheiro e não fumo, só minto um pouquinho”, o cantor costumava dizer, sempre com um espírito alegre e cheio de ironia. Tim Maia deixou um legado imenso na música brasileira.