As Jornadas de Junho de 2013, que completaram dez anos, continuam a gerar uma série de opiniões e análises. Alguns enxergam esses eventos como o início da decadência do sistema político brasileiro, que culminou com a ascensão da extrema direita fundamentalista ao poder no país, representada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Outros veem nas manifestações a explosão de uma nova forma de fazer política, que vai além das estruturas tradicionais, influenciada pela comunicação proporcionada pelas redes sociais.
Convocados pelo Movimento Passe Livre (MPL), milhares de jovens ocuparam as ruas nos primeiros dias daquele distante junho de 2013. Com o objetivo de exigir transporte público de qualidade e acessível a todos, esses manifestantes foram recebidos com extrema violência pela Polícia Militar de São Paulo. Em tempos de redes sociais, as imagens se espalharam pelo país e pelo mundo, e, a cada novo ato convocado, mais pessoas se juntavam às jornadas de junho. Tendo tomado grandes proporções em em São Paulo, as manifestações se disseminaram em todo o país, e, da mesma forma, uma diversidade de pautas e ideologias se mesclaram,
Desde então, acadêmicos e políticos têm se dedicado a buscar entender o que ocorreu nos momentos que sucederam as Jornadas de Junho de 2013. Esses eventos foram responsáveis pela ascensão da extrema direita? Setores capitalistas se aproveitaram para financiar grupos conservadores visando à hegemonia de suas pautas? A imprensa transformou as jornadas em algo conservador e antiesquerda? A imprensa transformou as jornadas em algo conservador e antiesquerda? A ex-presidenta Dilma Rousseff foi derrubada como consequência desses atos? E a terceira eleição do presidente Lula: é um reencontro com as raízes de junho de 2013? Com o Brasil de 2002? Ou nem uma coisa nem outra, e, assim como na dinâmica horizontal das redes, junho de 2013 se perdeu e hoje faz parte da memória política recente do Brasil?
Como podemos ver, são inúmeras as perguntas e reflexões que surgem a partir das Jornadas de Junho de 2013. Como resultado, uma série de livros, filmes e pesquisas foram produzidos para tentar responder às inúmeras questões suscitadas pelas manifestações. Portanto, selecionamos algumas obras que estimulam a reflexão sobre o ano em que os alicerces tradicionais do Brasil foram abalados.
Amanhã vai ser maior: O que Aconteceu com o Brasil e Possíveis Rotas de Fuga para a Crise Atual (Planeta/2019), por Rosana Pinheiro-Machado
Obra fruto da pesquisa da antropóloga Rosana Pinheiro-Machado, que busca fazer uma análise do cenário político e social desde as Jornadas de Junho de 2013 até a eleição de Jair Bolsonaro. Além disso, busca apontar saídas e mostrar que já estamos construindo possibilidades de resistir em tempos sombrios.
Sintomas Mórbidos: a Encruzilhada da Esquerda Brasileira (Autonomia Literária/2019), por Sabrina Fernandes
Obra escrita pela socióloga Sabrina Fernandes que remete ao interregno pensado pelo revolucionário italiano Antonio Gramsci na famosa passagem do seu Cadernos do Cárcere: “o velho está morrendo e o novo não pode nascer; nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparece”. Isso se encaixa como uma luva no Brasil contemporâneo depois do verdadeiro terremoto político causado pelas manifestações de junho de 2013 e seus ecos. O equilíbrio desequilibrado que sustentava a frágil democracia liberal brasileira aparentemente se desfez.
Limites da Democracia: De junho de 2013 ao Governo Bolsonaro (Todavia/2022), por Marcos Nobre
Para o autor, as manifestações de junho de 2013 foram o ponto de partida de uma sequência de eventos que destroçou os pactos institucionais. O período de instabilidade política e econômica que se seguiu aos protestos, sacudido pela Lava Jato e pelo impeachment de Dilma Rousseff, desembocou na eleição de Jair Bolsonaro e na transformação completa da paisagem política nacional. São esses os pontos analisados pelo pesquisador.
A Razão dos Centavos: Crise Urbana, Vida Democrática e as Revoltas de 2013 (Zahar/2023), por Roberto Andrés
Como foi que uma conjuntura econômica e política favorável viu irromper um dos maiores ciclos de manifestações do país? Quem foram seus principais atores? E como se deu o processo que resultou no cenário regressivo dos anos seguintes?
Participação e Democracia no Brasil: Da década de 1960 aos Impactos Pós-Junho de 2013 (Vozes/2019), por Maria da Glória Gohn
O livro faz um mapeamento dos grupos e movimentos que atuam no cenário brasileiro desde a década de 1960, com destaque para 1968, e os movimentos populares na década de 1970 e início dos anos de 1980. Após o período de redemocratização e a implementação da Carta Constitucional de 1988, analisam-se as políticas e espaços participativos institucionais, o crescimento dos movimentos identitários no espaço urbano, em questões de gênero, etnia e raça, e a proliferação de movimentos rurais.
Documentários
Junho - O Mês que Abalou o Brasil (2014), dirigido por João Wainer
Este filme aborda as Jornadas de Junho de 2013 a partir das perspectivas de personagens que participaram diretamente dos protestos: manifestantes, policiais e jornalistas.
O filme está disponível na Prime Video.
O Mês que não Terminou (2019), dirigido por Francisco Bosco e Raul Mourão
Realizado alguns anos depois das Jornadas de Junho e com a ascensão da extrema direita em curso, este documentário busca analisar os resultados dos protestos que sacudiram o Brasil há dez anos.
O filme está disponível na Prime Video.
Ecos de Junho (2021), dir. Paulo Markun
O documentário analisa as Jornadas de Junho de 2013 e sua influência nas transformações políticas do Brasil, a eleição de 2018 e os ecos de um mês que ainda não terminou.
O filme está disponível na Globoplay.