RAP NACIONAL EM LUTO

Rapper Dum Dum, do histórico grupo ‘Facção Central’, morre aos 54 anos

Ao lado de Mano Brown, GOG e Sabotage, Washington Roberto Santana é um dos principais nomes do rap nacional

Washington Roberto Santana, o rapper Dum Dum.Créditos: Júnior Imigrante (Instagram@imigrante_junior) via instagram/faccaocentral_oficial
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O rap nacional está de luto nesta sexta-feira (12) com a morte aos 54 anos de Washington Roberto Santana, conhecido como Dum Dum do histórico grupo Facção Central. O rapper estava internado desde o começo de abril, quando sofreu um AVC, em São Paulo. O artista - que ao lado de Mano Brown, Sabotage e GOG é um dos principais nomes do gênero - estava em coma induzido desde a cirurgia pela qual passou em abril. O óbito foi confirmado pelo grupo nas redes sociais.

“Infelizmente na manhã de hoje o rap nacional ficou mais pobre. Uma das maiores vozes do hip hip nos deixou. Seu legado será eterno. Descanse em paz meu mano, todas as quebradas do Brasil agradecem pelo que você fez e representou,” afirmou Eduardo Taddeo, seu parceiro de Facção Central, nas redes sociais.

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No anos 80 Dum Dum foi a um show dos Racionais MC’s, de Mano Brown, e se encantou pelo rap nacional que ali surgia. Teria sido naquela noite que ele decidiu que também seria um rapper. Em 1989 formou o Facção Central ao lado de Eduardo Taddeo, grupo que ficou famoso e até chegou a ser perseguido por suposta apologia ao crime. A razão são as letras que narram, de maneira dura e direta, as piores cenas que o crime, a violência policial e a exclusão social proporcionam para a população das periferias de São Paulo. Sua voz potente dava ainda mais força às composições.

Uma das músicas mais impactantes do grupo se chama “Hoje Deus anda de blindado (cercado e protegido por 10 anjos armados)”, lançada em 2003 no disco “Direto do campo de extermínio”. O trabalho representa o principal tema da banda, que ao longo dos anos denunciou a violência sistêmica – e vinda de todos os lados (Estado, crime organizado, mercado de trabalho etc.) - sofrida pela juventude periférica. “A pompa branca tem dois tiros no peito”, rima o grupo.

“Se Deus der rolê com cartão magnético, nem por marca de nascença reconhece no exame médico. Pro boy a causa é o código fora de época, o cuzão quer pena de morte e prisão perpétua. Acha que com o menor cumprindo como adulto, não vai ter na CNN político do Brasil com furo. Aposta na repressão e na polícia hostil, no gambé [gíria paulista para ‘policial’] me torturando no terreno baldio”, diz o trecho que inicia a canção, extremamente crítica à suposta noção de pacificação da sociedade frequentemente reivindicada politicamente pelos mais diversos setores.

Com Eduardo e Dum Dum à cabeça, o Facção Central denunciou uma série de massacres ocorridos nas periferias de São Paulo nos anos 80 e 90, que não ganharam destaque na imprensa. Como disse seu colega Eduardo Taddeo, a morte do rapper é muito sentida na comunidade do rap nacional. Em outra canção, Dum Dum rimou sobre as únicas razões que o fariam parar de cantar: “Só paro de cantar se a ordem vir lá do alto, ou nas covardias dos racistas fardados”.