O livro “Eleições 2022 e a reconstrução da democracia no Brasil” faz conexões entre as eleições de 2022, o resultado e os desafios para o terceiro mandato do presidente Lula (PT).
Temas como abusos de poder, desinformação e desrespeito às regras do jogo democrático são destacados na obra, lançada nesta terça-feira (14), pela Autêntica Editora.
O objetivo é debater detalhes do processo eleitoral de 2022, um dos mais intensos das últimas décadas no país. Nesse período, pesquisadores do Observatório das Eleições se dedicaram a compreender as questões que emergiram e a produzir artigos para que essas reflexões fossem compartilhadas com a sociedade brasileira. A partir desse movimento de pesquisa e análise nasceu o livro.
A obra, organizada pelo professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Leonardo Avritzer, e pelas pesquisadoras Eliara Santana e Rachel Callai Bragatto, busca alinhavar uma conexão entre as eleições, o resultado e a governabilidade nos próximos quatro anos.
Dividido em quatro partes, o livro apresenta uma visão ampla do processo eleitoral e próximos desafios. As análises de pesquisadores das mais diversas áreas mergulham em temas que vão do meio ambiente à configuração do Legislativo, passando por questões de raça e gênero, redes e desinformação, justiça e opinião pública, governos estaduais e atores coletivos.
Como está dividida a obra
Na primeira parte, “Erosão democrática e processo eleitoral”, fica evidenciada a forte continuidade entre o processo de degradação da democracia, a polarização política e as eleições.
O início desse processo envolveu uma enorme desigualdade no que diz respeito às condições de competitividade e a um tensionamento que impediu que os atores sociais e políticos avaliassem as diferentes propostas.
A disputa política de 2022 ocorreu em um campo semidemocrático construído pelo bolsonarismo. As pesquisas eleitorais refletiram sobre esse aspecto e a respeito do uso da máquina pública pelo governo Bolsonaro.
A segunda parte, “Redes sociais e o ecossistema de desinformação”, trata do cenário obscuro da disputa nas redes sociais. É descrito o ecossistema de desinformação fomentado pelo bolsonarismo, assim como analisado o modelo de funcionamento das plataformas de comunicação.
São apresentados, também, resultados do mapeamento das diferentes campanhas e estratégias digitais, analisando as dificuldades de Bolsonaro repetir a performance de 2018 e a mudança assertiva na campanha de Lula, que ocupou importantes espaços nas redes.
Na terceira parte do livro, “Democracia em dois turnos”, os artigos abordam duas questões que irão definir a representação política nos próximos anos no Brasil: o resultado das eleições na Câmara e no Senado revelou que a direita se tornou majoritária, ainda que tenham sido abertos espaços de negociação em relação à centro-direita; o fato de o país aina estar distante de um quadro de equilíbrio na representação política, se em termos de representação das mulheres, da população negra e dos povos indígenas.
A quarta e última parte, “Governabilidade e futuro da democracia”, aborda o desafio que será a governabilidade para o presidente Lula e aponta para os diferentes jogos políticos possíveis no Congresso Nacional.
Ao mesmo tempo, mostra que o bolsonarismo tem algum futuro como oposição, mas que ainda é incerto, especialmente no campo da organização do sistema político.
Propõe, ainda, uma reflexão sobre o futuro da democracia no Brasil. Nesse sentido, os autores mostram que ela depende da estabilização da governabilidade a partir de uma ampla coalizão, cujo elemento central tem de ser a adesão à própria democracia e a oposição à forma como o bolsonarismo atuou em relação às instituições democráticas nesses últimos quatro anos.
Observatório das Eleições
O Observatório das Eleições é uma iniciativa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT/IDDC) e existe desde 2018, produzindo análises sobre as questões centrais envolvidas nos processos eleitorais.
Em 2020, foram publicados cerca de 130 artigos. Nas eleições de 2022 contou com um amplo leque de parceiros que envolveu 14 veículos de imprensa. Cerca de 80 autores, de mais de 50 instituições, escreveram para o Observatório, cobrindo todas as regiões do país. Ao total, foram publicados mais de 180 artigos entre os meses de agosto e outubro de 2022.
Autores:
Alexandre Arns, Amanda Mota, Ana Luísa Machado de Castro, Beatriz Rey, Bia Calza, Carla Rosário, Carlos Machado, Carlos Ranulfo Melo, Danusa Marques, Eduardo Barbabela, Eliara Santana, Fabiano Santos, Fábio Kerche, Felipe Nunes, Flávia Biroli, Francisco Kerche, Gustavo Paravizo, Helena Dolabela, Helena Martins, João Feres Júnior, Leonardo Barros, Leonardo Avritzer, Luciana Santana, Maria Alice Silveira Ferreira, Marisa von Büllow, Marjorie Marona, Marta Mendes, Pedro Paulo de Assis, Priscila Delgado de Carvalho, Priscila Zanandrez, Rachel Callai Bragatto, Thomas Traumann, Viviane Gonçalves Freitas.