O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia que funciona sob o guarda-chuva do Ministério da Cultura, anunciou em 3 de fevereiro que passará a integrar o Comitê Executivo do Projeto Museu Nacional Vive, que busca reconstruir as instalações do Museu Nacional e recuperar parte do seu acervo, destruídos por incêndio de grandes proporções ocorrido em 2018.
“Já pegou fogo, está feito, quer que eu faça o quê? Meu nome é Messias mas não faço milagres”, questionou à época o então deputado federal e candidato à presidência, Jair Bolsonaro (PSL, atualmente no PL), quando perguntado sobre uma comissão da Câmara dos Deputados que seria formada para elaborar propostas para a reconstrução do espaço. Bolsonaro ainda culpou supostos funcionários filiados ao PT e ao PSOL pelo incêndio. O acervo do Museu Nacional contava com mais de 20 milhões de itens, boa parte acabou destruída.
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À época, também foi divulgado pelos meios de comunicação um verdadeiro desinvestimento público na instituição. Se em 2013, ainda no governo Dilma Rousseff (PT), o Museu Nacional dispunha de uma verba de R$ 980 mil vinculada ao orçamento do Ministério da Educação e Cultura (MEC), quatro anos depois, em 2017, sob o governo de Michel Temer (MDB), o montante caiu para R$ 643 mil.
O Iphan e a restauração do Museu Nacional
“Vamos instituir um comitê de acompanhamento ligado à área central, que vai dar suporte técnico. E também uma frente de nível local com servidores do Rio de Janeiro, que acompanharão os trabalhos de modo permanente e diário para que nós possamos tomar decisões adequadas e não deixemos nenhum processo um dia sequer sem resposta”, afirmou o presidente do Iphan, Leandro Grass, durante visita ao Museu Nacional em 3 de fevereiro. A ideia é aproximar o Iphan das ações de restauro, segundo nota do órgão divulgada para a imprensa.
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Buscando mais informações a respeito da atual situação do Museu Nacional, a Revista Fórum enviou algumas perguntas para o Iphan. Apesar do recente anúncio de integração ao Comitê Executivo, que em uma primeira vista pode dar a impressão que o trabalho tenha se iniciado recentemente, a autarquia explicou que vem acompanhando os trabalhos no MN desde o incêndio, em 2018, como fiscal do bem tombado.
“Nosso trabalho se desdobra em uma série de vistorias, orientação ao gestor do bem cultural e aprovações dos projetos a serem executados. A novidade mais recente é que o Iphan passou a compor o Comitê Executivo do Projeto Museu Nacional Vive do qual, até então, não fazia parte. A inclusão do Instituto no Comitê, que reúne uma série de parceiros e apoiadores da reconstrução, foi realizada para aproximar as instituições, alinhar os encaminhamentos e agilizar os processos”, explicou o instituto por meio da sua assessoria de comunicação.
O Iphan é fiscal do bem tombado e acompanha as obras nos monumentos e edifícios que se apresentam essa condição, O trabalho se desdobra em aprovações de projetos básicos e executivos, vistorias e orientações. Quem licita, contrata e coordena a equipe das obras são as instituições gestoras, no caso do Museu Nacional, a Associação Amigos do Museu Nacional, a Fundação COPPETEC, a Fundação Universitária José Bonifácio, a PR6 UFRJ e a Unesco – todas sob a coordenação do projeto Museu Nacional Vive.
Os profissionais do Iphan explicam que à época dos incêndios, os impactos foram bastante graves mas que desde então muita coisa já foi feita. Em setembro passado, por exemplo, foi inaugurada a fachada principal do museu no contexto das celebrações do Bicentenário da Independência do Brasil.
“Internamente, vêm sendo realizadas pesquisas e prospecções arqueológicas, que já revelaram uma série de achados, como um piso e forno antigos, pinturas murais decorativas e a capela da imperatriz. Por conta de sucessivas modificações ao longo dos anos, muitos desses elementos já não estavam visíveis antes do incêndio e devem ser reincorporados ao prédio: trata-se de um movimento importante de resgatar aspectos históricos desse imóvel tão emblemático. O projeto pré executivo está sendo finalizado e o projeto executivo de arquitetura têm previsão para dezembro”, declarou o instituto.
Segundo o Iphan, o Museu Nacional espera que os trabalhos possam ser concluídos em 2027. Contudo, como isso depende de uma série de variáveis, e algumas só surgem ao longo dos trabalhos, trata-se apenas de uma estimativa e não de um prazo preciso.
“A tragédia do Museu Nacional serviu como um alerta para as diversas instituições culturais sobre a necessidade de manutenção e conservação constantes em prédios históricos, bem como da instalação de sistemas de proteção contra incêndio e pânico. Outra recomendação que já vinha sendo feita ao Museu Nacional há anos pelo Iphan é restringir o Paço da Quinta da Boa Vista aos espaços museológicos. As atividades de ensino e de pesquisa serão deslocadas para um campus, que já está sendo construído pelo Museu Nacional”, concluiu o Iphan por meio da sua assessoria.
O Museu Nacional ao longo da história
Instituição científica e cultural mais antiga do país, o Museu Nacional foi criado em 1818 pelo então rei de Portugal, Dom João VI e funcionou, nos seus primeiros anos, no centro do Rio de Janeiro. Apenas três anos depois da proclamação da República, ocorrida em 1889, o museu se mudou em 1892 para o Paço da Quinta da Boa Vista, em palácio que outrora abrigou a residência oficial da família real portuguesa e, em seguida a família imperial brasileira.
O prédio atual apresenta estilo neoclássico e foi tombado em 1938 – tanto o palácio como os jardins da Quinta da Boa Vista. Projetado por Auguste François Marie Glaziou, o parque com estilo romântico é cheio de lagos, pontes, elevações e depressões, além de possuir cascatas artificiais e quiosques. Atualmente o local é um importante local de lazer do cotidiano carioca.