Primeiro tempo
— Olha, amor, o que eu comprei pra você...
— Pêssegos! Eu adoro pêssegos!
— Sei disso. Por isso comprei. Meia dúzia, pra você se fartar.
— Não, pega um pra você.
— Prefiro que você coma. Estão tão caros!...
— Então não precisava ter comprado, amor...
— Claro que precisava!... Gosto de ver sua felicidade...
Segundo tempo
— Vi na feira e trouxe pra você.
— Pêssegos?
— É. Não vai comer?
— Daqui a pouco.
— Mas você adorava...
— Ainda gosto. Mas é que eu tomei café agora...
— Só unzinho...
— Tá booommm...
Prorrogação
— Comprou pêssego?
— Está muito caro. Você não acredita.
— Mas pelo menos uns dois ou três.
— Da última vez ainda perdeu um. E a gente não tá em tempo de desperdiçar nada.
— Não é desperdício. Eu gosto.
— Mas deixou um.
— (rindo) — Pra você.
— Não mente. Você sabe que eu não como.
Pênaltis
— Estava pensando aqui na época em que você gostava de pêssegos...
— Pois é, eu gostava tanto. Enjoei.
— E eu passei a gostar.
— O que é a vida... A gente passa tanto tempo junto pra acabar trocando os gostos...
— Eu não posso nem com o cheiro mais... Muito doce, enjoativo.
— Mas eu comprei pra mim...
— Então come pra lá!...
Fim de jogo
— Sabe, amor, o que me deu vontade?...
— Sou eu, a enfermeira...
— ... pêssego. Há quanto tempo eu não como pêssego... Eu amo pêssegos...
— Aqui eles não têm pêssego...
— Quando você for à feira, traz pra mim?
— (para outra pessoa) — Agora ele só está assim. Só fala em pêssego e me chama de amor...
— Fala a verdade, não brinca. Eu estou até sentindo o perfume dos pêssegos...
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