FOMENTO À CULTURA

A trajetória da Lei Paulo Gustavo: da sobrevivência da cultura à execução

Principal projeto do setor cultural no país deve ser prorrogado por mais um ano

A lei leva o nome do grande ator Paulo Gustavo, falecido em 2021, vítima da Covid-19.Créditos: Reprodução/Instagram
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Nesta terça-feira (14), o Senado está com uma extensa agenda com 13 itens a serem votados em Plenário. Além das propostas relacionadas aos direitos das vítimas de barragens, modificações nas penalidades para advogados e solicitações de empréstimos externos com garantia da União, está em pauta a prorrogação do prazo para a execução dos recursos da Lei Paulo Gustavo, que aborda medidas emergenciais para o setor cultural.

De acordo com o texto, que está com pedido de urgência, o projeto propõe a ampliação do prazo para a execução dos recursos destinados ao desenvolvimento de espaços ou atividades culturais, conforme estabelecido pela lei, por mais um ano. Relator em duas comissões, a CAE e a CE do projeto, Humberto Costa propõe a extensão do prazo para a execução da Lei Paulo Gustavo até dezembro de 2024. “Um dos maiores projetos já feitos pelo país na área cultural”, disse ele.

Esses recursos podem ser direcionados para diversos fins, como serviços recorrentes, transporte, manutenção, tributos e encargos trabalhistas e sociais. Atualmente, o prazo vigente é até o final deste ano, dezembro de 2023. Caso a prorrogação não seja aprovada, os estados, o Distrito Federal e os municípios teriam a obrigação de restituir ao Tesouro todo o saldo remanescente dos recursos previstos na lei. A sessão para debater a prorrogação do projeto acontece hoje, às 14h.

Fundamental para a manutenção das atividades culturais em todo o país desde a pandemia da Covid-19, a lei foi um suporte diante de um governo que trabalhou no desmonte do setor cultural. No governo Bolsonaro, a cultura foi vítima do esvaziamento do Ministério da Cultura, do desmantelamento da Agência Nacional do Cinema (Ancine), das acusações de censura, das referências nazistas, das alusões à ditadura militar, da substituição de gestores e da influência da moral religiosa na seleção de projetos a serem financiados.

Além de tudo isso, o ex-presidente na época vetou o projeto, que foi derrubado pelo Congresso Nacional. Em homenagem ao ator Paulo Gustavo, falecido em 2021, a Lei Complementar no 195, de 2022, foi criada para ajudar artistas e trabalhadores da cultura prejudicados durante a pandemia do coronavírus. Entenda como foi a trajetória para a aprovação, regulamentação e aplicação da Lei Paulo Gustavo (LPG):

Linha do tempo da Lei Paulo Gustavo

10 de maio de 2021

  • O Projeto de Lei Complementar 73/21, que estabelece a criação da Lei Paulo Gustavo (LPG), foi apresentado no Senado Federal.

24 de fevereiro de 2022

  • O Projeto de Lei Complementar é aprovado na Câmara dos Deputados.

28 de março de 2022

  • Após a aprovação na Casa, o projeto é foi encaminhado para sanção do presidente.

6 de abril de 2022

  • Bolsonaro decide vetar o projeto de lei.

5 de julho de 2022

  • O Congresso Nacional revoga o veto de Bolsonaro à Lei Paulo Gustavo (LPG).

8 de julho de 2022

  • A Lei Complementar (LC) 195/2022 é divulgada no Diário Oficial da União (DOU).

29 de agosto de 2022

  • A Medida Provisória 1.135/2022 é publicada no Diário Oficial da União (DOU), concedendo ao governo o poder de postergar repasses para a Lei Paulo Gustavo.

8 de novembro de 2022

  • O Supremo Tribunal Federal suspende a Medida Provisória 1.135/2022.

1 de janeiro de 2023

  • O Decreto 11.336/2023 restabelece o Ministério da Cultura (MINC), extinguido por Bolsonaro em janeiro de 2019.

13 de fevereiro de 2023

  • Início das consultas com a sociedade civil e gestores.

15 de fevereiro de 2023

  • Para operacionalizar as disposições da lei, a Portaria do Ministério da Cultura estabelece a criação do Grupo de Trabalho (GT) da Lei Paulo Gustavo.

15 de março de 2023

  • A Portaria nº 2 do Ministério da Cultura, datada de 15 de fevereiro de 2023, estende por mais 30 dias a atuação do Grupo de Trabalho (GT) da Lei Paulo Gustavo.

18 de abril de 2023

  • O GT da Lei Paulo Gustavo apresenta as considerações sobre o decreto aos demais membros do grupo, incluindo dirigentes e representantes da sociedade civil.

11 de maio de 2023

  • Finalmente, a assinatura do decreto é formalizada, pelo presidente Lula, estabelecendo as regulamentações da Lei Paulo Gustavo (LPG).

12 de maio de 2023

  • A plataforma TransferGov disponibiliza acesso à Lei Paulo Gustavo (LPG) para o cadastramento dos entes da federação e liberação de recursos.

Diversidade é prioridade

Assegurar a inclusão e promover a democratização do acesso aos investimentos destinados pelo Ministério da Cultura para o setor cultural é também um dos principais objetivos na implementação da lei. Ela estabelece que os projetos devem incorporar condições de acessibilidade para pessoas com deficiência e determina que os proponentes destinem pelo menos 10% dos recursos recebidos para cobrir os custos relacionados à implementação dessas medidas e à utilização de tecnologias assistivas.

Conforme estabelecido pelo Decreto de Regulamentação da Lei Complementar 195/2022, é necessário garantir medidas de democratização, desconcentração, descentralização e regionalização dos investimentos culturais. Isso inclui a implementação de ações afirmativas e mecanismos que incentivem a participação e o protagonismo de agentes culturais. 

Equipes representativas, compostas por mulheres, pessoas negras, pessoas indígenas, comunidades tradicionais, de terreiro e quilombolas, populações nômades, povos ciganos, pessoas do segmento LGBTQIAPN+, pessoas com deficiência e outros grupos minorizados, serão promovidas por meio de cotas, critérios diferenciados de pontuação, editais específicos ou qualquer outra modalidade de ação afirmativa que assegure a participação e o protagonismo

Todas essas ações têm o objetivo de considerar a realidade local, a organização social do grupo e a legislação vigente. O Decreto Nº 11.525, de 11 de maio de 2023, estabelece a obrigatoriedade de que os chamamentos ofereçam, no mínimo, 20% das vagas para pessoas negras e, no mínimo, 10% para pessoas indígenas, sem prejuízo de outras ações afirmativas.

Segundo apontou Mariana Braga, assessora de Participação Social e Diversidade do MinC, “a Lei Paulo Gustavo tem essa atenção de estabelecer medidas que visam estimular o protagonismo, a criação e, principalmente, garantir que esses recursos sejam  acessados por fazedores de artes e cultura  pertencentes a  grupos que foram vulnerabilizados ao longo da história”.