CULTURA

Fernanda Montenegro: "Brasília é um país que coloniza o Brasil"

Aos 92 anos e prestes a se tornar imortal na ABL, Fernanda Montenegro fala de "emblema sórdido" que virou símbolo da "atividade presidencial" de Bolsonaro: "é uma arma ou o sexo de um homem"

Fernanda Montenegro prova uniforme para sua posse na ABL.Créditos: Facebook/ Carmen Mello @trigonosproducoes
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Aos 92 anos e prestes a se tornar imortal na Academia Brasileira de Letras, Fernanda Montenegro diz que Jair Bolsonaro (PL) foi eleito com um "emblema sórdido" - sobre a arma com os dedos "ou o sexo de um homem" - e acredita que ele só foi ele porque os governos anteriores "não fizeram o suficiente".

"Estamos com esse trágico governo, um presidente que faz como símbolo da sua atividade presidencial uma mão (faz o gesto de Jair Bolsonaro) que é uma arma ou o sexo de um homem. É um emblema sórdido. Agora, esse homem só está no poder porque todos os governos que o precederam, embora mais simpáticos, mais democratas, não fizeram o suficiente. Dou como exemplo as favelas. É uma herança. Por que não tiraram esse homem do poder? A carência social não deveria estar tão potente", lamenta a atriz em entrevista ao jornal O Globo.

A atriz diz que não deve votar nas eleições de outubro - pela idade, ela não é mais obrigada pela lei - e também não saber como se muda a questão política no país. 

"Às vezes eu penso que Brasília é um país que coloniza o Brasil", diz após reafirmar que "hoje a esperança, mais do que nunca, tem que ser ativa".

Segundo ela, "o mais simbólico desse governo foi o fim da cultura das artes".

"Não tem governo radical que não pare a cultura das artes. Mas estamos nas catacumbas, vivos. E não estamos extinguidos", ressalta.

A veterana afirma que é "tempo de mudança de plumagem" e acredita que talvez precise de duas décadas para se reverter os estragos promovidos por Bolsonaro.

"Estamos sem as penas, com a pele entregue à intempérie. Não entendo por que o Brasil não se salvou desse homem. Até quando Brasília vai ser um país invasor? Talvez se precise de mais duas gerações para sentir que caminhamos, a tal ponto chegamos a zero com esse homem", diz, ressaltando que "não verei" esse tempo. "Meus netos começarão a ver".